Cacheada photos on Flickr

Eu ouvi falar do Sl em uma revista meio tardiamente. Fazem dois anos que escutei falar do jogo e um ano que entrei. Sim - não sou do universo virtual propriamente dito. Tenho 28 anos na rl e logo farei 29. Sou artista, arte-educadora e professora. Problematizo várias questões de minorias sociais a partir da minha prática cotidiana. Ou seja: milito a partir da minha (r)existência.

Antes de entrar no SL, li um artigo sobre o corpo negro no SL. Nele, os pesquisadores universitários se debruçaram no metaverse para discutir o olhar que transpassa o corpo negro, sendo pelos próprios controlador do avi ou por outro avi. A conclusão é que as ações vivenciadas na RL eram levadas ao SL, de modo que as próprias pessoas negras faziam avis brancos, loiros e de olhos azuis para serem aceitos socialmente.

Eu, teimosa que sou, resolvi manter minha identidade afro-brasileira e latina. Bato cabeça pros meus orisàs e trago em mim simbolicamente toda a beleza e dor dos que vieram antes de mim. Fiz um avi negro.

É muito difícil pensar um avi negro no SL. Creio que os ventos começam a mudar, mas ainda assim é mais difícil construir esse corpo/identidade que o avi branco. Para começar, basta ver a diversidade de Skins e Shapes disponíveis para as pessoas negras. A que eu uso atualmente é uma da Insol, e é a mais escura da linha (se não me engano, o nome dela é Ebony). E eu estou falando de pensar efetivamente produtos de qualidade, com sombreamentos e degradês bonitos, que não deixem a pele negra com aspecto acinzentado.

Também é impressionante a quantidade de cabelos lisos que existem no SL, para uma minoria cacheada e uma quantidade ainda menor de cabelos crespos. As comunidades ancestrais africanas e as que receberam esse povo diaspórico (em condições de escravidão, exílio, etc) trabalham a muito tempo com as várias qualidade de cabelos crespos e cacheados e é difícil encontrar empresas que acolham esses avis (eu conheço algumas das quais eu possuo cabelos crespos, trançados e cacheados). Meu primeiro cabelo cacheado/negro eu consegui com Eli Vespucciano, quando a vi pela primeira vez no Kizomba. Lá ela me indicou a Analog Dog Hair e, desde então,tenho me virado com alguma dificuldade.

No que tange roupas afro-brasileiras ou de países da África, encontrar referências também se torna algo bem difícil. Há marcas que eu gosto (inclusive uma de uma lojista baiana), mas o número é insipiente frente a outras possibilidades de roupas, inclusive às roupas medievais ocidentais europeias. Também não digo apenas sobre roupas afro tradicionais. Vou contar um segredo: negros e indígenas também chegaram na idade contemporânea e suas roupas também mudaram. E são belíssimas . E o esforço não é grande. Basta pesquisar.

Quando pensamos em tatuagem, assim como no que já foi mencionado, é importante pensar que ela nunca é pensada pro corpo negro. Basta ver como uma tatuagem se destaca mais no corpo branco.E assim como tatuagens, a maquiagem vai no mesmo caminho. As maquiagens para pele negra que vão desde as extremamente fortes para os nudes em pele negra (pra quem não sabe, nude é aquela que parece natural e lógico, nude em uma negra não é o nude de uma branca). É como se sempre fossemos a exceção, quando não somos! Ainda não estamos no mesmo lugar de poder. Ainda!!

Eu gostaria muito de fazer uma lista dessas lojas todas, para ajudar pessoas no SL que pensem o avi negro, gostem dessa estética e pensem como é importante existirmos, resistirmos e re-existirmos nesses espaços que ainda são higienizados. Espero contar com a ajuda da Hazel Mansa e Mystra Van Galagher pra isso, e de todas as outras pessoas que se solidarizem com a causa. Por que eu acredito muito mais nas ações de micropolíticas que geram redes de fortalecimento que nas promessas de mudança radical. Mudança é gradual, é cotidiana. Causa dor, precisa de esforço e tromba nas barreiras do indivíduo e da sociedade.

Obs: Eu não sou morena. Sou negra, neguinha, preta, pretinha. Morena é um outro tipo de gente - que também é lindo. Me chamar de morena é apagar minha ancestralidade.É apagar as comunidades de onde saí, os templos onde frequento, a favela onde eu ando. Mesmo eu sendo mestiça, meu avi e eu, somos ambas negras. E nos assumimos e nos reinventamos negras todos os dias!

obs 2: marco aqui minhas amigas da + M Consultiria que, apesar de brancas, me apoiam e me escutam quanto a necessidade de representatividade negra. Para que sigamos fortes e juntas.

Obs 3: Sobre as sardas, eu coloquei pra festa de São João da +M Consultoria, que aconteceu no dia 16 de Junho de 2018. Meu parceiro (seja lá o que isso signifique) me disse que eu fiquei muito fofa (ela adora me chamar de fofa) e eu comecei a curtir. Como tenho escutado muito, estou deixando rolar.

Beijos mil a todas e todos.

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I've heard of Sl in a magazine a little late. It's been two years since I heard about the game and a year that I entered. Yes - I am not of the virtual universe itself. I am 28 years old in RL and soon I will be 29. I am an artist, art educator and teacher. I problematize various social minority issues from my everyday practice. In other words: milito from my (r) existence.

Before entering the SL, I read an article about the black body in SL. In it, the university researchers leaned in the metaverse to discuss the gaze that transpasses the black body, being by the own controller of the avi or by another avi. The conclusion is that the actions lived in the RL were taken to the SL, so that the black people themselves made avis white, blond and blue eyes to be accepted socially.

I, stubborn that I am, decided to maintain my Afro-Brazilian and Latin identity. I head to my orisàs and bring in me symbolically all the beauty and pain of those who came before me. I made a black avi.

It is very difficult to think of a black avi in SL. I think the winds begin to change, but it's still harder to build that body / identity than the white avi. To get started, just see the diversity of Skins and Shapes available to black people. The one I currently use is one from Insol, and it's the darkest of the line (if I'm not mistaken, her name is Ebony). And I'm talking about thinking effectively about quality products with beautiful shades and gradations that do not leave the black skin looking greyish.

Also impressive is the amount of straight hair that exists in SL for a curly minority and even fewer curly hairs. African ancestral communities and those who have received these diasporic people (in conditions of slavery, exile, etc.) have long worked with the various curly and curly hair quality and it is difficult to find companies that host these avis (I know some of them I have curly, braided and curly hair). My first curly black hair I got with Eli Vespucciano, when I first saw her in Kizomba. There she pointed me to the Analog Dog Hair and since then I've been upset with some difficulty.

When it comes to Afro-Brazilian clothing or from African countries, finding references also becomes very difficult. There are brands that I like (including one from a Bahian shopkeeper), but the number is insipient in front of other possibilities of clothes, including the western European clothes western. Nor do I say just about Afro-traditional clothing. I will tell you a secret: blacks and natives also arrived in the contemporary age and their clothes also changed. And they are beautiful. And the effort is not great. Just search.

When we think of tattooing, as in what has already been mentioned, it is important to think that it is never intended for the black body. Just see how a tattoo stands out more in the white body. And just like tattoos, the makeup goes in the same way. Makeup for black skin ranging from the extremely strong to the nudes in black skin (for those who do not know, nude is the one that looks natural and logical, nude in a black is not the nude of a white). It is as if we are always the exception, when we are not! We are not yet in the same place of power. Still!!

I would like to make a list of all these stores, to help people in SL who think black avi, like this aesthetic and think how important it is to exist, resist and re-exist in those spaces that are still sanitized. I hope to count on the help of Hazel Mansa and Mystra Van Galagher for this, and of all the other people who are sympathetic to the cause. Why do I believe much more in the actions of micropolicies that generate networks of strengthening than in the promises of radical change. Change is gradual, it is everyday. It causes pain, needs effort, and strikes the barriers of the individual and of society.

Note: I am not brunette. I'm black, black, black, black. Morena is another type of people - who is also beautiful. To call me a brunette is to erase my ancestry. It is to erase the communities from where I left, the temples where I frequent, the favela where I walk. Even though I'm half-breed, my Aun and I, we're both black. And we assume and reinvent ourselves black every day!

obs 2: marco here my friends of + M Consultiria who, although white, support me and listen to me about the need for black representativeness. So that we can remain strong and together.

Obs 3: On the freckles, I put to the party of St. John da + M Consultoria, which happened on June 16, 2018. My partner (whatever that means) told me that I was very cute (she loves me call me cute) and I started to enjoy it. Since I've listened a lot, I'm letting it go.

A thousand kisses to all and everyone.

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