Propaganda à Lopes, Coelho Dias
A ‘Especial Fábrica a Vapor de Conservas Alimentícias Lusitana’ foi criada e estabelecida na R. de S. Pedro de Miragaia, no Porto, como uma sociedade em comandita na qual José Coelho Dias era o sócio comanditário (entrou com o capital) e Joaquim Antonio Lopes era o sócio comanditado e gerente:
José Coelho Dias, natural de Espinho, tinha antes emigrado para o Império do Brasil de onde tinha entretanto regressado rico e resolveu investir nesta empresa conserveira;
as suas conservas começaram a alcançar uma crescente preferência em todos os mercados onde se apresentavam, começando a ser cada vez mais forte a pressão de clientes e amigos para a necessidade da sua expansão e para se dedicarem ao fabrico da conserva de sardinha;
depois de uma longa e aturada viagem pelo estrangeiro onde puderam verificar os últimos progressos da indústria conserveira, e de terem estudado vários locais onde poderiam instalar em Portugal a nova fábrica, optaram por escolher a praia de Matosinhos (Areal do Prado) que oferecia na altura as melhores garantias, tanto no que dizia respeito ao aprovisionamento da matéria-prima como no das vias para a exportação dos produtos fabricados através do porto de abrigo artificial de Leixões inaugurado em 1892, uma vez que o sector da indústria conserveira em Portugal constituiu fundamentalmente um sector exportador desde os seus primórdios.
A antiga ‘Real Fábrica a Vapor de Conservas Alimentícias’, da empresa ‘Lopes, Coelho Dias & Cª’, foi a 1.ª fábrica de conservas que se estabeleceu em 1899 na futura ou já R. Guerra Junqueiro, no prolongamento da atual R. Brito Capelo desde 18/12/1890 (antes, R. Juncal de Cima), delimitada a sul pela futura ou já R. Sousa Aroso (no Areal do Prado, em Matosinhos Sul):
foi construída de raiz com instalações modelares, numa área de 14 000 m2 e sendo considerada uma das maiores deste ramo da indústria alimentar na Península Ibérica, pela sociedade em nome coletivo ‘Lopes, Coelho Dias & Cª’ cujos sócios eram os da ‘Especial Fábrica a Vapor de Conservas Alimentícias Lusitana’, tendo antes de 1929 passado a ser uma sociedade por quotas, a ‘Conservas Lopes, Coelho Dias, Lda’;
em abril de 1903, pescadores de Matosinhos queixaram-se ao 'Jornal de Notícias' contra as redes à Valenciana por causa destas capturarem toda a sardinha qualquer que fosse o tamanho, e o jornal 'A Federação' apoiou, escrevendo que 'são as armações ... de capitalistas gananciosos';
em agosto de 1903, houve uma greve de soldadores da fábrica 'Lopes, Coelho Dias & Cª', em Matosinhos, e de ferroviários na linha ferroviária Porto-Famalicão;
as instalações da fábrica foram alvo de melhoramentos em 1904, ano em que foi também aumentado o seu capital social;
chegou a ser denominada ‘Real Fábrica de Conservas de Matosinhos’ e chegou a ter 400 operários que, em certas ocasiões de grande movimento chegaram a ser 1000;
foi um dos exemplos da interação em Matosinhos entre a indústria e as vias de comunicação, pois o elétrico da Linha Marginal passava à porta na R. Brito Capelo e a linha ferroviária do Ramal de Leixões passava junto às suas instalações desde 1895 a caminho dos Apeadeiro do Prado e do Sura-Prado facilitando o transporte das suas exportações;
os produtos da ‘Lopes, Coelho Dias & Cª’, que naquela época constituíam uma novidade e cujo consumo atraía principalmente as camadas médias da sociedade portuguesa, apresentavam 2 características essenciais (grande qualidade rivalizando com os que a ‘Fábrica Brandão, Gomes & Cª' também colocava no mercado, e enorme diversidade);
a produção destas 2 fábricas constituía um verdadeiro festival gastronómico, pois ambas colocavam no mercado, para além das conservas de sardinha que já então constituíam a sua principal produção e que eram preparadas nas mais diversas e extravagantes variedades como as conservas de sardinha fumada, produtos em conserva que hoje em dia dificilmente se consegue imaginar tais como, uma imensa variedade de conservas de peixe (atum, salmão, congro, cherne, linguado, pescada, ...), de marisco (ameijoas, camarão, lagosta, mexilhão e ostras), de carnes (vitela, carneiro, vaca e porco), de aves (frango, pato, peru e borracho), de caça (codorniz, coelho, lebre, pato, perdiz, pombo e rola), de legumes (espargos, grelos, nabos, repolho, cenoura, couve) e ainda embalagens enlatadas de queijo da serra, frutas em calda, geleia ou polpa para sorvetes (a extrema variedade de conservas que, nesta época, caracterizava a produção destas fábricas, incluía ainda diversos tipos de molhos como o afamado ‘Molho de Espinho’ feito à base de azeite, vinagre, mostarda e pickles pela ‘Brandão, Gomes & Cª’ e que granjeou um enorme sucesso comercial);
uma das fotos é publicidade às conservas e pickles 'Lopes, Coelho Dias & C.ª', da autoria de Francisco Valença (in: Ilustração Portuguesa, n.º 73, de 27/03/1905);
a participação de Portugal na I Guerra Mundial constituiu o ensejo para ambas as fábricas terem apresentado ainda um novo produto, as refeições de campanha em latas de 1 Kg adaptadas ao paladar nacional (bacalhau guisado com batas ou grão, dobrada e vitela à jardineira);
aspeto não negligenciável da atividade destas fábricas, e constituindo um suporte fundamental para a sua afirmação e conquista de mercados que, no caso português, ainda se encontravam pouco familiarizados com este tipo de produtos, consistia nos materiais publicitários que ambas editavam (desde os luxuosos catálogos de produtos às estampas, postais, cartazes, calendários, todos eles evidenciavam uma grande originalidade e qualidade artísticas para cuja execução recorriam por vezes a oficinas gráficas estrangeiras) pretendendo associar uma imagem de prestígio à qualidade dos seus produtos, o que efetivamente, conseguiram alcançar com pleno êxito;
enquanto estas 2 fábricas foram praticamente as únicas no mercado nacional com tamanha diversidade de produtos oferecidos no mercado, pois os centros conserveiros de Setúbal-Sesimbra e do Algarve, apesar de nesta época serem mais importantes, não apresentavam este tipo de produção tão diversificada, os negócios decorreram com normalidade, não obstante a crise do sector conserveiro verificada no pós-guerra e à qual se seguiram os efeitos da Grande Depressão de 1929, ainda que limitados, mas que tiveram algum impacto num dos poucos sectores cujos produtos Portugal conseguia exportar;
a 28/05/1929, o operário Francisco Pinheiro, da 'Lopes, Coelho Dias, Lda.', foi condecorado com a Ordem do Mérito Agrícola e Industrial.
estas fábricas pioneiras acabaram por perder então a característica da diversidade de produção, principalmente após o início da expansão do sector conserveiro no centro produtor do Norte a partir da década de 20 do séc. XX, passando então a produzirem apenas conservas de peixe com especial destaque para as de sardinha;
os problemas surgiram um pouco mais tarde, decorrentes da natural expansão do sector conserveiro no centro produtor do Norte de Portugal, embora globalmente este desenvolvimento tivesse provocado efeitos positivos na economia da região, catapultando, a partir da década de 30 do séc. XX, o núcleo conserveiro de Matosinhos para o 1.º lugar no 'ranking' do sector conserveiro nacional;
a expansão registada nas décadas de 20 e de 30, a que se seguiu o excecional período de procura de conservas portuguesas durante a II Guerra Mundial, com base na especialização das fábricas conserveiras de Matosinhos numa única variedade de produtos, as conservas de peixe, impossibilitou a sobrevivência de fábricas como a ‘Conservas Lopes, Coelho Dias, Lda.’ que registava elevados custos de exploração em virtude da extrema variedade de produtos que continuava a fabricar (embora, nos últimos anos da sua vida como unidade conserveira, tivesse reduzido essa multiplicidade de produtos privilegiando a produção de conservas de sardinha tendo chegado a produzir 6 milhões anuais de latas e a empregar 300 operários, era impossível continuar a manter uma estrutura produtiva como a que se mantinha desde a sua fundação);
em 1941, a ‘Conservas Lopes, Coelho Dias, Lda.’ acabou por encerrar e vendeu as suas instalações ao industrial Adão Pacheco Polónia que manteve a fábrica em funcionamento até cerca de 1965;
em junho de 1942, a ‘Adão Polónia & C.ª, Lda. situada na R. Brito Capelo 1104-1200, Matozinhos, apareceu referenciada numa lista ‘negra’ do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque;
em 1953, Adão Polónia deslocou-se ao Rio de Janeiro a fim de concretizar a venda de 2 barcos de pesca seus;
em meados de 1999, as suas instalações abandonadas há mais de 30 anos começaram a ser demolidas para dar lugar a uma urbanização no âmbito do plano de recuperação urbana da zona sul de Matosinhos.
Propaganda à Lopes, Coelho Dias
A ‘Especial Fábrica a Vapor de Conservas Alimentícias Lusitana’ foi criada e estabelecida na R. de S. Pedro de Miragaia, no Porto, como uma sociedade em comandita na qual José Coelho Dias era o sócio comanditário (entrou com o capital) e Joaquim Antonio Lopes era o sócio comanditado e gerente:
José Coelho Dias, natural de Espinho, tinha antes emigrado para o Império do Brasil de onde tinha entretanto regressado rico e resolveu investir nesta empresa conserveira;
as suas conservas começaram a alcançar uma crescente preferência em todos os mercados onde se apresentavam, começando a ser cada vez mais forte a pressão de clientes e amigos para a necessidade da sua expansão e para se dedicarem ao fabrico da conserva de sardinha;
depois de uma longa e aturada viagem pelo estrangeiro onde puderam verificar os últimos progressos da indústria conserveira, e de terem estudado vários locais onde poderiam instalar em Portugal a nova fábrica, optaram por escolher a praia de Matosinhos (Areal do Prado) que oferecia na altura as melhores garantias, tanto no que dizia respeito ao aprovisionamento da matéria-prima como no das vias para a exportação dos produtos fabricados através do porto de abrigo artificial de Leixões inaugurado em 1892, uma vez que o sector da indústria conserveira em Portugal constituiu fundamentalmente um sector exportador desde os seus primórdios.
A antiga ‘Real Fábrica a Vapor de Conservas Alimentícias’, da empresa ‘Lopes, Coelho Dias & Cª’, foi a 1.ª fábrica de conservas que se estabeleceu em 1899 na futura ou já R. Guerra Junqueiro, no prolongamento da atual R. Brito Capelo desde 18/12/1890 (antes, R. Juncal de Cima), delimitada a sul pela futura ou já R. Sousa Aroso (no Areal do Prado, em Matosinhos Sul):
foi construída de raiz com instalações modelares, numa área de 14 000 m2 e sendo considerada uma das maiores deste ramo da indústria alimentar na Península Ibérica, pela sociedade em nome coletivo ‘Lopes, Coelho Dias & Cª’ cujos sócios eram os da ‘Especial Fábrica a Vapor de Conservas Alimentícias Lusitana’, tendo antes de 1929 passado a ser uma sociedade por quotas, a ‘Conservas Lopes, Coelho Dias, Lda’;
em abril de 1903, pescadores de Matosinhos queixaram-se ao 'Jornal de Notícias' contra as redes à Valenciana por causa destas capturarem toda a sardinha qualquer que fosse o tamanho, e o jornal 'A Federação' apoiou, escrevendo que 'são as armações ... de capitalistas gananciosos';
em agosto de 1903, houve uma greve de soldadores da fábrica 'Lopes, Coelho Dias & Cª', em Matosinhos, e de ferroviários na linha ferroviária Porto-Famalicão;
as instalações da fábrica foram alvo de melhoramentos em 1904, ano em que foi também aumentado o seu capital social;
chegou a ser denominada ‘Real Fábrica de Conservas de Matosinhos’ e chegou a ter 400 operários que, em certas ocasiões de grande movimento chegaram a ser 1000;
foi um dos exemplos da interação em Matosinhos entre a indústria e as vias de comunicação, pois o elétrico da Linha Marginal passava à porta na R. Brito Capelo e a linha ferroviária do Ramal de Leixões passava junto às suas instalações desde 1895 a caminho dos Apeadeiro do Prado e do Sura-Prado facilitando o transporte das suas exportações;
os produtos da ‘Lopes, Coelho Dias & Cª’, que naquela época constituíam uma novidade e cujo consumo atraía principalmente as camadas médias da sociedade portuguesa, apresentavam 2 características essenciais (grande qualidade rivalizando com os que a ‘Fábrica Brandão, Gomes & Cª' também colocava no mercado, e enorme diversidade);
a produção destas 2 fábricas constituía um verdadeiro festival gastronómico, pois ambas colocavam no mercado, para além das conservas de sardinha que já então constituíam a sua principal produção e que eram preparadas nas mais diversas e extravagantes variedades como as conservas de sardinha fumada, produtos em conserva que hoje em dia dificilmente se consegue imaginar tais como, uma imensa variedade de conservas de peixe (atum, salmão, congro, cherne, linguado, pescada, ...), de marisco (ameijoas, camarão, lagosta, mexilhão e ostras), de carnes (vitela, carneiro, vaca e porco), de aves (frango, pato, peru e borracho), de caça (codorniz, coelho, lebre, pato, perdiz, pombo e rola), de legumes (espargos, grelos, nabos, repolho, cenoura, couve) e ainda embalagens enlatadas de queijo da serra, frutas em calda, geleia ou polpa para sorvetes (a extrema variedade de conservas que, nesta época, caracterizava a produção destas fábricas, incluía ainda diversos tipos de molhos como o afamado ‘Molho de Espinho’ feito à base de azeite, vinagre, mostarda e pickles pela ‘Brandão, Gomes & Cª’ e que granjeou um enorme sucesso comercial);
uma das fotos é publicidade às conservas e pickles 'Lopes, Coelho Dias & C.ª', da autoria de Francisco Valença (in: Ilustração Portuguesa, n.º 73, de 27/03/1905);
a participação de Portugal na I Guerra Mundial constituiu o ensejo para ambas as fábricas terem apresentado ainda um novo produto, as refeições de campanha em latas de 1 Kg adaptadas ao paladar nacional (bacalhau guisado com batas ou grão, dobrada e vitela à jardineira);
aspeto não negligenciável da atividade destas fábricas, e constituindo um suporte fundamental para a sua afirmação e conquista de mercados que, no caso português, ainda se encontravam pouco familiarizados com este tipo de produtos, consistia nos materiais publicitários que ambas editavam (desde os luxuosos catálogos de produtos às estampas, postais, cartazes, calendários, todos eles evidenciavam uma grande originalidade e qualidade artísticas para cuja execução recorriam por vezes a oficinas gráficas estrangeiras) pretendendo associar uma imagem de prestígio à qualidade dos seus produtos, o que efetivamente, conseguiram alcançar com pleno êxito;
enquanto estas 2 fábricas foram praticamente as únicas no mercado nacional com tamanha diversidade de produtos oferecidos no mercado, pois os centros conserveiros de Setúbal-Sesimbra e do Algarve, apesar de nesta época serem mais importantes, não apresentavam este tipo de produção tão diversificada, os negócios decorreram com normalidade, não obstante a crise do sector conserveiro verificada no pós-guerra e à qual se seguiram os efeitos da Grande Depressão de 1929, ainda que limitados, mas que tiveram algum impacto num dos poucos sectores cujos produtos Portugal conseguia exportar;
a 28/05/1929, o operário Francisco Pinheiro, da 'Lopes, Coelho Dias, Lda.', foi condecorado com a Ordem do Mérito Agrícola e Industrial.
estas fábricas pioneiras acabaram por perder então a característica da diversidade de produção, principalmente após o início da expansão do sector conserveiro no centro produtor do Norte a partir da década de 20 do séc. XX, passando então a produzirem apenas conservas de peixe com especial destaque para as de sardinha;
os problemas surgiram um pouco mais tarde, decorrentes da natural expansão do sector conserveiro no centro produtor do Norte de Portugal, embora globalmente este desenvolvimento tivesse provocado efeitos positivos na economia da região, catapultando, a partir da década de 30 do séc. XX, o núcleo conserveiro de Matosinhos para o 1.º lugar no 'ranking' do sector conserveiro nacional;
a expansão registada nas décadas de 20 e de 30, a que se seguiu o excecional período de procura de conservas portuguesas durante a II Guerra Mundial, com base na especialização das fábricas conserveiras de Matosinhos numa única variedade de produtos, as conservas de peixe, impossibilitou a sobrevivência de fábricas como a ‘Conservas Lopes, Coelho Dias, Lda.’ que registava elevados custos de exploração em virtude da extrema variedade de produtos que continuava a fabricar (embora, nos últimos anos da sua vida como unidade conserveira, tivesse reduzido essa multiplicidade de produtos privilegiando a produção de conservas de sardinha tendo chegado a produzir 6 milhões anuais de latas e a empregar 300 operários, era impossível continuar a manter uma estrutura produtiva como a que se mantinha desde a sua fundação);
em 1941, a ‘Conservas Lopes, Coelho Dias, Lda.’ acabou por encerrar e vendeu as suas instalações ao industrial Adão Pacheco Polónia que manteve a fábrica em funcionamento até cerca de 1965;
em junho de 1942, a ‘Adão Polónia & C.ª, Lda. situada na R. Brito Capelo 1104-1200, Matozinhos, apareceu referenciada numa lista ‘negra’ do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque;
em 1953, Adão Polónia deslocou-se ao Rio de Janeiro a fim de concretizar a venda de 2 barcos de pesca seus;
em meados de 1999, as suas instalações abandonadas há mais de 30 anos começaram a ser demolidas para dar lugar a uma urbanização no âmbito do plano de recuperação urbana da zona sul de Matosinhos.