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Orania a entrar no port de Leixões por volta das 12H00 de 19-12-1934 e ao largo, o Loanda

Numa das suas viagens de regresso da América do Sul, e depois de ter feito escala em Lisboa estando consignado aos agentes do Porto Orey Antunes & Cia, Lda.), o S.S. ORANIA chegou ao largo da entrada do porto de Leixões por volta das 06:00 de 19/12/1934 para desembarque de 68 dos seus 122 passageiros e de alguma carga, o que demoraria cerca de 4 horas.

Devido às condições de mar adversas, a lancha de pilotar P1 tentou por várias vezes fazer-se ao largo, mas a forte maresia cujos vagalhões se vinham desfazer em espuma entre molhes e nas praias vizinhas galgando os 2 paredões portuários (molhe norte e molhe sul), não permitiu a sua saída do porto de Leixões;

a entrada do S.S. ORANIA na bacia do porto de Leixões só foi possível por volta das 12:00 com o auxílio do rebocador MARS 2.º, fundeando ferros a meio porto a 200 m aquém da entrada do porto num espaço exíguo, devido à aglomeração de outros 12 vapores e dezenas de embarcações de pequeno porte, sendo logo de seguida içada no mastro do Castelo de Leça da Palmeira (Capitania do Porto de Leixões) a sinalização de porto encerrado.

Executadas as formalidades legais dos serviços de saúde e estando os 68 passageiros na cobertura do paquete preparados para o desembarque, e sem que nada o previsse, o paquete LOANDA da CCN que vinha de Lisboa para receber passageiros e carga a seguirem no dia seguinte para vários portos de Angola e de Moçambique com escala prévia de novo em Lisboa, demandou o porto de Leixões sem a presença física de um piloto da barra e sem observar o sinal de acesso interdito que tinha sido içado e que o seu capitão disse não ter visto (veterano nas suas vindas ao porto de Leixões, o capitão entendeu que tinha prioridade sobre o S.S. ORANIA na entrada no porto de Leixões por ter chegado antes e, por isso, não deveria ficar ao largo depois de o S.S. ORANIA ter entrado).

Com demasiado andamento a toda a velocidade para vencer a forte ondulação do mar, e apesar de acionada a manobra de marcha à ré, o abalroamento do S.S. ORANIA foi inevitável (houve uma colisão violenta da proa ou frente do LOANDA com o lado esquerdo do costado de bombordo do S.S. ORANIA):

o capitão Laurens Maars do ORANIA, prevendo o embate, deu ordem para que todos a bordo se segurassem, enquanto o LOANDA, expelindo imenso fumo pela chaminé, viu-se diante do S.S. ORANIA e, sem espaço de manobra, de marcha toda força à ré mas sem conseguir deter-se, embateu estrondosamente no S.S. ORANIA a meia-nau por ré da ponte de comando e abriu-lhe uma enorme brecha, desde a coberta superior até a linha de água, por onde começou a entrar água a rodos e em grossos borbotões;

ao mesmo tempo, Laurens Maars mandou descarregar as caldeiras, a fim de evitar uma explosão, mas isso também impediu o levantamento dos ferros para ele ser rebocado mais para dentro do porto;

a bordo do S.S. ORANIA, ergueu-se um coro de gritos de pavor, nomeadamente dos 122 passageiros que procuravam socorro, já que os 158 tripulantes se mostravam relativamente calmos;

o S.S. ORANIA começou de imediato a adornar a bombordo e acabou por ficar completamente tombado em poucas horas (se pelas 16:00 a proa já estava submersa, antes das 19:00 já só se via a parte superior das 2 chaminés e o pavilhão holandês a flutuar à tona da água);

todo o pessoal de bordo, 158 tripulantes e 122 passageiros que, na sua maioria, deixaram no S.S. ORANIA as suas roupas e bagagens, foi salvo pelos meios de salvamento do vapor, por baleeiras de outros navios e por muitas das dezenas de pequenas embarcações ali fundeadas que prontamente se disponibilizaram para o efeito, incluindo o salva-vidas do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN);

a carga e os 54 passageiros que continuariam viagem até uma das escalas seguintes do S.S. ORANIA, Corunha, Bolonha, Southampton e Amesterdão, tiveram que esperar em Leixões alguns dias até seguirem viagem;

o LOANDA, apesar dos estragos que sofreu na proa, foi intimado pelo capitão do porto de Leixões a sair do porto, tal como os vapores BJORNOY, OTTINGE, KRONOS, GONÇALO VELHO, MINA e ODYSSEUS, que se fizeram todos ao largo e ficaram à entrada do porto,tendo os respetivos pilotos desembarcado, e os vapores IBO, PADUA, CEUTA e MARIVALDES continuaram fundeados na bacia do porto de Leixões com os respetivos pilotos embarcados.

Chegada a notícia do naufrágio à cidade do Porto e arredores, os cais de Leixões encheram-se de populares e, nos dias seguintes, a romagem de curiosos foi intensa:

nas praias das proximidades do porto de Leixões, a guarda-fiscal,

coadjuvada pela PSP, procedia a uma rigorosa vigilância a fim de impedir que fossem pilhados por estranhos aos serviços marítimos os materiais e restos de bagagens que o mar se tinha encarregado de arrebatar do interior do ORANIA.;

também várias companhias de salvamento começaram a afluir ao porto de Leixões, entre elas a 'A/S Em. Svitzer's Bjerg' de Copenhaga com o seu salvadego VALKYRIEN que tentou deslocar o ORANIA para área portuária que não obstruísse o movimento marítimo, passados alguns dias (nos trabalhos de tentativa de reflutuação do ORANIA, e da sua deslocação para área que não obstruísse o movimento portuário, o que ocorreu por várias vezes além desta, tomaram parte os salvadegos CABO ESPICHEL e CABO SARDÃO, do porto de Lisboa - AGPL);

assim, embora tivesse sido retirado do local do acidente, o S.S. ORANIA permaneceu tombado por muito tempo na bacia do porto de Leixões e diz-se que só não foi recuperado devido a interesses alheios às autoridades marítimo-portuárias e ao seu armador, a 'Koninklijke Hollandsche Lloyd' de Amsterdão, que em 1935 abandonou o serviço de passageiros e, devido a um litígio com o porto de Leixões, deixou de escalar portos portugueses com os seus outros navios de carga e os seus paquetes FLANDRIA e ZEELANDIA por recear o arresto dos seus navios (só regressou a Leixões com um navio, já na década de 70 do séc. XX).

 

Com ligeiras adaptações e acrescentos meus a partir da consulta de vários sítios na internet, este texto é da autoria de Rui Amaro, filho de José Fernandes Amaro Júnior que foi piloto da Barra do Douro de 1929 a 1957 e que testemunhou o acidente por estar a bordo do vapor norueguês BJORNOY fundeado na covada do Molhe Sul do porto de Leixões (é que no dia anterior, este navio tinha tentado entrar na Barra do Douro e, devido à forte maresia, não conseguiu tendo ido abrigar-se na bacia do porto de Leixões), reformado da agência de navegação GARLAND, LAIDLEY / VESSELMAR (Administrativo e Caixeiro de mar) - PORTO e autor do livro 'A BARRA DA MORTE - A FOZ DO RIO DOURO' cujo lançamento pela editora 'O Progresso da Foz' teve lugar a 14/04/2007 no estaleiro norte das obras da nova barra do rio Douro, à Foz do Douro no Porto.

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Uploaded on September 20, 2015