Osvaldo Santos Lima
Note que a nuvem não se mexe...
Recostado na janela mais alta ouvi "Un vestido y un amor" de Fito Páez na voz de Mercedes Sosa.
O horizonte intocável durante a música. No céu as nuvens não dançavam. As folhas das árvores permaneciam estáticas e nem latido o cachorro do vizinho tinha.
Mais alto um avião pairava desafiando a gravidade já não tão "grave" assim.
A cada verso a música penetrava os objetos congelando-os.
Talvez a música tenha durado dias, semanas, talvez segundos, não sei. Mas sei que vi de tudo enquanto o cd, num louco spin, roubava os movimentos do mundo. Não sei precisar o que senti pois sentia tudo a ponto de pensar que sentiria todos os sentimentos, desgastando-os severamente.
Preocupava-me este velho mundo agora em sua forma estática. Não seria eu acusado mais tarde de fazê-lo parar? Frutos que nuncam amadureceriam, pássaros que foram roubados de suas acrobacias, abelhas condenadas a uma singular flor, máquinas travadas em meio a lida, motores e engenhos impedidos de serem e fazerem o que sempre foram e fizeram.
A água do rio não mais encontraria o mar e o mar não mais ofereceria peixe ou paisagem. Não havia olhar a não ser o meu. Não havia o tempo a não ser eu. Não havia o dito e o desdito pois não havia bocas e seus ocos, nem semântica, nem sintaxe, nem equações desmedidas, nem alunos sentados e professores de pé, nem cálculos complexos, nem Deus e suas diversas vestes, pois somente nada havia e seus imperfeitos sinônimos.
Insisto, foi o que aconteceu comigo.
Osvaldo Santos Lima
Note que a nuvem não se mexe...
Recostado na janela mais alta ouvi "Un vestido y un amor" de Fito Páez na voz de Mercedes Sosa.
O horizonte intocável durante a música. No céu as nuvens não dançavam. As folhas das árvores permaneciam estáticas e nem latido o cachorro do vizinho tinha.
Mais alto um avião pairava desafiando a gravidade já não tão "grave" assim.
A cada verso a música penetrava os objetos congelando-os.
Talvez a música tenha durado dias, semanas, talvez segundos, não sei. Mas sei que vi de tudo enquanto o cd, num louco spin, roubava os movimentos do mundo. Não sei precisar o que senti pois sentia tudo a ponto de pensar que sentiria todos os sentimentos, desgastando-os severamente.
Preocupava-me este velho mundo agora em sua forma estática. Não seria eu acusado mais tarde de fazê-lo parar? Frutos que nuncam amadureceriam, pássaros que foram roubados de suas acrobacias, abelhas condenadas a uma singular flor, máquinas travadas em meio a lida, motores e engenhos impedidos de serem e fazerem o que sempre foram e fizeram.
A água do rio não mais encontraria o mar e o mar não mais ofereceria peixe ou paisagem. Não havia olhar a não ser o meu. Não havia o tempo a não ser eu. Não havia o dito e o desdito pois não havia bocas e seus ocos, nem semântica, nem sintaxe, nem equações desmedidas, nem alunos sentados e professores de pé, nem cálculos complexos, nem Deus e suas diversas vestes, pois somente nada havia e seus imperfeitos sinônimos.
Insisto, foi o que aconteceu comigo.
Osvaldo Santos Lima