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Avo/Grandfather....

Para todos os avos do mundo...

Vovo, hoje parece que acordei lembrando de voce, ou o simples impulso de fotografar esse homem, naquela balsa que liga Salvador a Itaparica me levou inconcientemente a esse lugar em meu coracao que eu guardo somente para voce.

Sua docura, seus problemas, sua inteligencia e simplicidade foram para mim um incomensuravel testemunho em minha existencia....

Gostaria de comecar contando as historinhas que o Sr. me contava com tanto carinho, seus dias de motorneiro de trolebus, dos imensos choques eletricos, que tiraram sua visao no decorrer de sua vida. Das manqueiras que floriam e davam frutos na Afonso Pena, e do seu jeito correto e serio de ser...

Ah vovo, como era bom ir visita-lo quando crianca, como que meu cronologo soubesse exatamente quando o Sr. recebia seu salario de aposentadoria, quando minha mesada era posta na minha mao, aquelas notas vermelhas, um tanto delas, com aquele carimbo redondo preto no meio da face estampada de algum politico importante (mas nunca tao importante como Voce), se permitir me chama-lo assim, voce...

Sei que nao importaria, eu era seu neto predileto, tambem nao eramos muitos, Nancy, Vania e eu eram os que o visitavam com mais frequencia, adoravamos suas prosas, e o resto dos netos, muito novos nao os conheciam bem

pois nao podiam compreender como que voce enxergava e de repente ficou cego...

Nem eu entendia, ficava curioso como voce sabia que nota voce carregava em sua mao, (eh nunca me dava uma errada), aquele tanto de notas, e poucas balas, uma maria mole, talvez um troco pra uma Grapette...

Ah o radio, eu nao entendia porque eu tinha que subir naquela escadona, esticar aquele arame enrolado de uma ponta a outra e enfiar uma ponta no seu radio, voce dizia, cuidado, essa eh minha antena, minha janela para o mundo...

E la nos dois ficavamos abracadinhos escutando a hora do Brasil, e com entusiasmo eu apreendia sobre o mercado financeiro, o preco do toucinho, saca de cafe, saco de acucar, da sua Bolsa Mercantil...

Seu cheirinho, ah velho fede, ou era aquele chuveiro que eu tinha que consertar? Ah vo, eu era novo, e eletricidade me assustava, mas eu tentava neh?

Voce se lembra, meu pai nao conversava contigo, os dois orgulhosos demais, seus cano estourou e eu tinha que ser seu bombeiro hidaraulico, bom, tive que pedir ajuda ao pai, nao sabia fazer rosca no cano, mesmo com toda sua paciencia em tentar me explicar, eu ja estava cancado de ficar molhado e assim voces fizeram as pazes.

Tambem, quem mandou voce dizer a ele que em mim ele nao daria uma surra, nao perto dele, eu eu agarra suas calcas como que elas fossem meu ultimo refugio...

E o dia que eu lhe pedi um dinheiro pra comprar um violao, que o homem que vendia boloes carregava consigo, e sem perguntar duas vezes poque voce me emprestou o dinheiro.

Sao muitas as memorias, pouco tempo para escrever las, quem sabe um dia poderemos de novo tomar outra garapa, feita pela minha engenhoca (hey voce disse que era minha) eu podia fazer o tanto que eu quizesse, com qualquer cana, caiana, roxinha, afinal eu que cuidava delas neh!!!

E minha vaca estrela, ainda hoje me lembro dela, da cobra jiboia que ficava do outro lado da fazendinha, onde eu nunca podia ir mas principalmente, lembro me de como eramos felizes, eu, voce o radio e seu cheirinho...

Saudades vovo, bencao.

E na sua frase preferida depois dos 7 anjinhos encontrei, "e pe na tabua'.....lhe digo

dorme com Deus e boa noite.

Beijos.

 

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Uploaded on February 12, 2007
Taken on March 25, 2007