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rede vazia

Tu perguntas

o que uma lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados?

Respondo que o oceano sabe.

E por quem a medusa espera em sua veste transparente?

Está esperando pelo tempo, como tu.

'Quem as algas apertam em seu abraço...', perguntas

'mais firme que uma hora e um mar certos?' Eu sei.

Perguntas sobre a presa branca do narval

e eu respondo contando como o unicórnio do mar,

arpado, morre.

Perguntas sobre as plumas do rei-pescador

que vibram nas puras primaveras dos mares do sul.

Quero te contar que o oceano sabe isto:

que a vida, em seus estojos de jóias,

é infinita como a areia incontável, pura;

e o tempo, entre uvas cor de sangue

tornou a pedra dura e lisa encheu a água-viva de luz,

desfez o seu nó, soltou seus fios musicais

de uma cornicópia feita de infinita madrepérola.

Sou só a rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão

e de dedos habituados à longitude do tímido globo de uma laranja.

Caminho como tu, investigando a estrela sem fim

e em minha rede, durante a noite, acordo nu.

A única coisa capturada é um peixe preso dentro do vento.

 

[Pablo Neruda]

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Uploaded on May 28, 2010
Taken on May 21, 2010