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"fugaz folha do feto"

Céu vivo

 

 

 

Não poderei queixar-me

se não encontrei o que buscava.

Perto das pedras sem sumo e dos insectos ocos

não verei o duelo do sol com as criaturas em carne viva.

 

Mas irei à primeira paisagem

de choques, líquidos, rumores,

que ressuma criança recém-nascida

e onde toda a superfície é evitada,

para entender o que busco terá seu alvo de alegria

quando eu voar misturado com o amor e as areias.

 

Ali não chega a geada dos olhos apagados

nem o mugido da árvore assassinada pela lagarta.

Ali todas as formas guardam enlaçadas

uma única expressão frenética de avanço.

 

Não podes avançar pelos enxames de corolas

porque o ar dissolve teus dentes de açúcar.

Nem podes acariciar a fugaz folha do feto

sem sentir o assombro definitivo do marfim.

 

Ali sob as raízes e na medula do ar

compreende-se a verdade das coisas equivocadas.

O nadador de níquel que espreita a onda mis fina

e o rebanho de vacas nocturnas com rubras patinhas de mulher.

 

Não poderei queixar-me

se não encontrei o que buscava

mas irei à primeira paisagem de humidades e latejos

para entender que o que busco terá seu alvo de alegria

quando eu voar misturado com o amor e as areias.

 

Voo fresco de sempre sobre leitos vazios.

Sobre grupos de brisas e barcos encalhados.

Tropeço vacilante pela dura eternidade fixa

e amor ao fim sem alva. Amor. Amor visível!

 

 

Federico Garcia Lorca

 

 

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Uploaded on June 5, 2006