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Portugal - Leiria e o seu Castelo - Ao longo dos séculos o castelo foi perdendo progressivamente o seu valor militar e durante as invasões francesas foi bastante danificado, a sua lenta recuperação foi sendo executada ao longo do século XX.

Muito antes de me aproximar e fotografar este majestoso castelo medieval, permaneci dentro do carro a olhar e a tentar imaginar o seu tempo áureo cheio de vida e sonhos num início muito distante desta pequena Nação, sem me aperceber absolutamente de nada à minha volta e daquilo que me rodeava, embrenhado nos meus pensamentos e completamente absorvido pela magia de um tempo ido há muito, muito tempo. Senti um sussurro no ar, uma leve brisa acompanhada de uma alteração da luz, um fervilhar de qualquer coisa – de alguém – a retirar-se. A atmosfera estava diferente, era de noite e havia uma ameaça na escuridão que me mantinha afastado das muralhas e então a presença daquilo que parecia um fantasma gentil foi substituída por algo destrutivo, uma malevolência, o ar estava opressivamente frio a pressionar-se sobre mim como uma neblina matinal sobre o mar, um cheiro pungente a sal, peixe podre e fumo, senti a necessidade de fugir apesar de não saber exatamente de quê, mas em vez disso senti-me avançar em direção as muralhas. Havia uma figura negra atrás delas, uma espécie de criatura e eu consegui sentir a sua respiração na nuca, ver nuvens brancas no ar gelado, mas as muralhas começaram a retroceder a ficar mais pequenas e distantes, agora sentia passos a correr velozmente, a ganhar cada vez mais velocidade nas sombras, a preparar-se para saltar, comecei então a correr com o medo a injetar mais poder nas minhas tremolas pernas, os meus pés escorregavam, deslizavam no chão húmido sempre com a respiração no meu encalço, a criatura estava mesmo atrás de mim, a arranhar o seu pelo nauseabundo, o fedor a ferro e sangue fundira-se na sua pele, na superfície do seu escalpe cheio de bolhas jaziam rasgos irregulares na pele que mais pareciam fendas abertas por um qualquer pedaço de metal ferrugento e as solas dos seus pés, com uma formação bifurcada remexiam no restolho, desajeitados, tentei correr o mais depressa que podia e sem querer olhei para trás, por cima do ombro e então fui apanhado pelo olhar negro, hediondo da criatura, parecia ter descido ao inferno, senti o silencio a aprofundar-se à minha volta, senti os braços malévolos e gelados a descerem à volta do meu pescoço molhado e frio, o cheiro do mar a arrastar-me para as suas profundezas…E então, no mesmo instante acordei com o som de um carro que passava a buzinar numa curva logo ali à frente, respirei aliviado, tinha adormecido por breves instantes, olhei à minha volta e nada mais vi para além deste magnifico castelo, fiquei com a certeza que deveria fotografá-lo de vários ângulos e procurar saber mais um pouco da sua história. O resto foi só um pesadelo de uma mente fértil e que às vezes pensa que já viveu nesses tempos tão distantes…

 

Este ângulo que vos apresento na foto acima é para mim, aquele que melhor representa a sua beleza. Vamos falar da história deste velho e enigmático Castelo de Leiria que é sem dúvida o mais emblemático monumento da cidade, um ex-líbris que se identifica com a sua história, fazendo parte das memórias de um passado dos tempos das conquistas e das guerras com os mouros desde o reinado do primeiro Rei de Portugal D. Afonso Henriques.

 

Situado num morro, em posição dominante sobre a cidade, na margem esquerda do rio Lis, rodeado pelo velho casario do centro histórico o Castelo é um belo e imponente monumento medieval. Das suas ameias estrategicamente colocadas num monte panorâmico, a vista alcança inúmeras terras ao seu redor. A sua planta é poligonal irregular. Para maior protecção dos lados Norte e Este, em que as muralhas eram mais fáceis de transpor, foi construída uma barbacã e um muro mais baixo do que as muralhas, à sua frente com uma cerca avançada. As muralhas da antiga vila medieval prolongam-se do lado Este, com uma entrada através de uma torre com grandes frestas. Na muralha do lado oposto, temos a Porta da Traição. Numa das plataformas mais elevadas, encontra-se a Torre de Menagem, que é um pequeno recinto muralhado. Esta torre apresenta três pisos, paredes largas, e um terraço. O Castelo de Leiria foi mandado construir por D. Afonso Henriques, como forma de estabelecer uma linha defensiva contra os árabes, mas as suas guerras com a Galiza fizeram com que os árabes aproveitassem a deslocação dos exércitos do Condado Portucalense a norte, para em duas ocasiões, conseguirem apoderar-se de Leiria. Em 1142, depois de reconquistar definitivamente Leiria, D. Afonso Henriques, mandou reforçar as defesas do castelo e D. Sancho I, já por volta de 1195, mandou erguer as muralhas da cidade.

 

A importância desta cidade foi crescendo, tornando-se palco de actos importantes, como a reunião das primeiras cortes, convocadas por D. Afonso III, foi residência de D. Dinis e da rainha Santa Isabel, nova reunião de cortes no reinado de D. Fernando e D. João I, que celebra ali o casamento do seu filho D. Afonso, e também lançou os trabalhos de construção do novo Paço da Rainha. Ao longo dos séculos o castelo foi perdendo progressivamente o valor militar e durante as invasões francesas foi bastante danificado, só em finais do século XIX, por iniciativa dos Amigos do Castelo, foram iniciadas obras de restauro e no início do século XX, foi classificado como Monumento Nacional. As obras de recuperação deste monumento foram sendo executadas ao longo de todo o século XX, algumas desfizeram trabalhos anteriores, considerados pouco rigorosos e ainda em 1990, foram realizadas intervenções. Eis um belo exemplo daquilo que deve ser feito com o nosso património, são atitudes destas que me fazem ter orgulho de ser Português.

 

Com exemplos bem definidos em todos os países do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações plausíveis, e até certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações cientificamente comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Podemos entender que a lenda é uma degeneração do Mito. Como diz o dito popular "Quem conta um conto acrescenta um ponto", as lendas, pelo fato de serem repassadas oralmente de geração em geração, sofrem alterações à medida que vão sendo recontadas, porem, a sua magia e o seu encanto tende a prevalecer geração após geração…

 

A lenda do corvo da tomada de Leiria

 

Em tempos idos o primeiro rei de Portugal e as suas hostes, vieram, em estugada marcha do norte ao sul, com desejo de conquistar o Castelo de Leiria que aquele Rei havia edificado, anos antes, e os mouros tinham tomado depois da grande matança de gente portuguesa. Ao chegar às proximidades de Leiria, que então ainda não era cidade, o Rei dispôs os seus guerreiros a norte do castelo, num montículo, hoje conhecido como Cabeço de El-Rei, donde ia partir para o assalto por aquele lado menos difícil para a tomada da fortaleza. Devia ser uma alvorada sem brumas a prenunciar um dia de sol claro a refulgir nas pontas das lanças e nas espadas dos soldados portugueses. Quando todas as tropas estavam já prontas para a arrancada pousou um corvo, no alto de um pinheiro, que começou a agitar as asas com frenesim e a crocitar com alegria. Tal facto muito contentou as tropas do Rei Afonso e mais os entusiasmou por verem nele um sinal de bom agoiro para a empresa a que estavam destinados, a conquista do Castelo de Leiria, façanha que viriam a concluir com sucesso. Este acontecimento é ainda hoje lembrado no brasão da cidade de Leiria, que mostra um corvo em cima dos dois pinheiros que ladeiam a sua torre central.

 

A lenda do Milagre das Rosas

 

Vivia o Rei D. Dinis com a Rainha Santa Isabel, no Castelo de Leiria. A Rainha tinha mandado fazer a igreja de Nossa Senhora da Penha, lá no Castelo, onde moravam, na qual trabalhavam muitos alvanéis. Santa Isabel, era muito caridosa e dava muitas esmolas aos pobres, facto que às vezes contrariava o Rei, que era bom administrador do reino e da sua fazenda, tanto mais que as esmolas da sua mulher eram grandes e repetitivas. Um dia, levava a Rainha, numa abada do seu manto, grande quantidade de pães para distribuir pelos mais pobres, quando lhe apareceu, de surpresa o seu marido e Rei, que conhecendo demasiado bem o espírito de bem – fazer da Rainha e calculando o que ela levava na aba do seu manto, lhe perguntou: “Que levais aí, Senhora?” Ao que a Rainha Santa lhe responde: “Rosas, Senhor! São rosas” E a Santa Rainha abrindo o manto em que levava os pães destinados aos pobres, deixou-os cair já transformadas em lindas rosas, frescas e viçosas. O Rei seguiu o seu caminho, sorrindo contente e a Rainha ficou mais feliz ainda...

 

 

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Uploaded on February 1, 2013
Taken on November 16, 2010