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Portugal – Castelo de Beja. Esta cidade revoltou-se contra as tropas comandadas pelo General Junot, pagando demasiado alto o preço da sua rebeldia. Entre as muitas Lendas existentes no Alentejo, a da costureirinha de Beja é das mais bonitas.

Na península Ibérica, diversos castelos estão erguidos sobre os vestígios de castros pré-romanos, em locais sucessivamente ocupados até à época da invasão islâmica. Depois da Reconquista cristã, foram aproveitadas muitas dessas fortificações, que foram alargadas e reforçadas: aí residia uma população escassa, habitando a restante nos campos vizinhos e só recolhendo ao castelo em caso de ataque. O castelo constituía-se na sede de um julgado e gozava de certos privilégios. A estrutura arquitetónica do castelo sofreu uma mutação ao longo dos tempos e Portugal não é exceção. Em meados do século XIV assistimos a uma difusão excessiva por parte de exércitos beligerantes de armas de fogo, tornando-se necessário efetuar modificações nos castelos, que, embora já desde D. Fernando utilizassem algumas defesas engenhosas, e tivessem sofrido adaptações no sentido de comportar armas de fogo, considerava-se agora essencial criar um novo espaço defensivo, a fortaleza… É o dealbar dos tempos modernos que se aproximam, que virá a levar ao abandono da maioria dos castelos no território português, no entanto muitos resistiram às mudanças e a todas as adversidades que lhes foram impostas, umas vezes por necessidade outras por desconhecimento e muitas ainda por puro vandalismo, felizmente não foi o caso deste majestoso Castelo de Beja que ainda hoje em pleno Seculo XXI nos encanta com tanta beleza…

 

Muito antes dos lusitanos, o local onde hoje se encontra a nobre cidade de Beja com as suas muralhas romanas, os seus prédios góticos, a mesquita árabe e o castelo do princípio da monarquia portuguesa, essa Beja com documentos que representam 4 civilizações era um pequeno povoado aonde os seus habitantes viviam em cabanas cobertas de colmo e apenas se dedicavam ao exercício da caça. Embora a primitiva ocupação humana de seu sítio remonte à pré-história e esteja mencionada nos escritos de Ptolomeu e de Políbio, em meados do século II a.C. A sua fortificação data da Invasão romana da Península Ibérica, possivelmente devido à importância adquirida no cenário regional. Foi este o local escolhido por Júlio César para formalizar a paz com os Lusitanos, após o que passou a denominar-se Pax Júlia, vindo a sediar uma das três jurisdições romanas da Lusitânia. Acredita-se que os muros de defesa romanos remontem a algum momento entre o século III e o século IV.

 

Essa relevância econômica e estratégica manteve-se na época dos Suevos, dos Visigodos e sob a ocupação Muçulmana. À época da Reconquista cristã da Península Ibérica, foi inicialmente conquistada pelas forças de D. Afonso Henriques em 1159, para ser abandonada quatro meses mais tarde. Voltaria a ser reconquistada de surpresa, por uma expedição de populares vindos de Santarém, em princípio de Dezembro de 1162. O tempo e as guerras encarregaram-se de apagar parte desse glorioso e multifacetado passado.

 

Nos anos que se seguiram, posteriormente à derrota do Rei no cerco de Badajoz em 1169, o cavaleiro Gonçalo Mendes da Maia - o Lidador, já nonagenário, perdeu a vida na defesa das muralhas de Beja. Diante da falta de informações sobre o período posterior a essa data, os estudiosos acreditam que a grande ofensiva almóada de Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur no ano de 1191 até ao rio Tejo, após ter reconquistado Silves, compreendeu também a reconquista de Beja, permanecendo em poder dos cristãos apenas a cidade de Évora, em todo o Alentejo. Supõe-se ainda que a povoação teria retornado a mãos portuguesas apenas entre 1232 e 1234, época em que as cidades vizinhas de Moura, Serpa e Aljustrel, já faziam parte do território Nacional. A primeira restauração dos muros de Beja datam do reinado de D. Afonso III, que as fez iniciar a partir de 1253, com recursos oriundos de dois terços dos dízimos das igrejas de Beja, num período de dez anos. No ano seguinte em 1254, a povoação recebeu o seu foral nos mesmos termos do de Santarém, confirmado em 1291 no reinado de seu filho, D. Dinis. Este, por sua vez, prosseguiu as obras de reconstrução, reforçando e ampliando as muralhas e torres em 1307 e iniciou a construção da torre de menagem no ano de 1310.

 

A povoação e o seu castelo apoiaram o Mestre de Avis no contexto da crise de 1383-1385, tendo envolvimento com episódios subsequentes da História de Portugal, como a fase dos Descobrimentos. No século XV, sob o reinado de D. Afonso V, a Vila foi elevada a ducado, tendo como 1° duque de Beja o seu irmão, o infante D. Fernando e, posteriormente, o rei D. Manuel I. No reinado deste último soberano teve lugar grandes obras de beneficiação das defesas da vila. Beja passaria à categoria de cidade em 1517.

 

Opondo-se à injustiça e à opressão do invasor francês, Beja rebelou-se contra as tropas comandadas pelo General Junot, pagando demasiado alto o preço da sua rebeldia. O resultado foi um massacre terrível, pois as forças de Junot mataram cerca de 1200 pessoas, valendo a intervenção da Igreja local para evitar maiores calamidades. Um quarto de século mais tarde, as lutas entre liberais e absolutistas desencadearam novos episódios sangrentos, resultando na morte de um grande número de membros do Clero e de indefesos cidadãos bejenses. Ainda no século XIX, o castelo de Beja seria alvo de outra grande destruição que lhe arrasaria parte do seu perímetro defensivo. Sobre a silhueta da sua praça-forte sobressai a Torre de Menagem, altiva e esbelta, obra-prima da arquitetura militar do período gótico, do reinado de D. Dinis. Constituída por três pisos e com uma altura de 40 metros, a Torre do Castelo de Beja é uma joia a preservar.

 

A Lenda de uma luz misteriosa

 

As histórias de lobisomens e de bruxas são vulgares no meio rural tradicional. Maus encontros com animais a horas tardias, doenças provocadas por um mau querer, feitiçarias, beberagens para atrair ou afastar paixões, visões e vozes, tudo isto são elementos do vasto manancial do imaginário popular sobre forças maléficas. Há contudo, outro tipo de histórias que são comuns a várias aldeias e vilas do Alentejo. É o caso da estranha luz que, de noite, acompanhava os viajantes, normalmente pastores, almocreves e, mais recentemente, tratoristas que de noite procedem às grandes charruadas em campos abertos. Era uma luz que seguia o caminhante sem contudo, o incomodar. A luz acompanhava o viajante seguindo a seu lado, parando quando este parava e acompanhando a velocidade da deslocação do visado. Nenhuma das pessoas que afirmam ter estado em contacto com o fenómeno, esboçou qualquer reação. Para essa passividade contribuiu seguramente o facto de ser conhecida a reação da luz quando atacada. O fim da história aqui apresentada é relativamente benéfico. Noutras descrições, que a tradição popular regista, a luz, quando hostilizada, normalmente conduz à morte do atacante.

 

Algures na região de Beringel (Beja), havia um sujeito que não acreditava em coisas estranhas, daquelas que se contam nas aldeias. Naquele tempo, corria o boato de que havia no campo uma espécie de luz vermelha que andava de um lado para o outro, mas que não se deixava ver de perto. Os mais velhos afirmavam que já a tinham visto, e este destemido homem que em nada acreditava disse, na brincadeira: - Se eu encontrar essa maldita luz, desfaço-a toda aos bocados com o meu cajado. O que vos conto a seguir é a narração do próprio meliante:- Numa noite, eu ia guiando a minha charrete e lá estava à minha frente aquela luz vermelha parada em cima do muro. Saí, peguei no meu cajado e como tinha prometido disse com ar forte e corajoso: - Já que aí estás, espera que já vais ver o que é bom para a saúde, e de imediato dirigi-me até junto dela e tentei dar-lhe com o cajado, mas não consegui pois ela era demasiado rápida e sempre que eu atacava ela logo se desviava, continuei à cajadada com ela, mas falhava sempre e ia ficando mais furioso e cansado. Voltei para a charrete quando nisto ela se voltou contra mim, não sei exatamente o que aconteceu, parecia que estava a levar uma grande tareia e desmaiei. Os cavalos voltaram para casa e eu, em sima da charrete estava como um morto. Na manhã seguinte, a minha mulher, já preocupada, foi ver se eu estava a dormir na charrete, diz ela que eu estava com a roupa toda rasgada, todo cheio de sangue, e branco como um morto, no entanto estava apenas desmaiado. Depois da minha mulher tratar de mim eu nunca mais quis ouvir falar dessa maldita luz, e hoje o que eu vos digo é que existem coisas que o melhor é a gente não tentar compreender nem tão pouco fazer afronta, pois isso de ser forte não passa de uma estupidez que de repente nos atira para o além…

 

A Lenda da Costureirinha de Beja

 

Entre as crenças que em tempos existiram no Baixo Alentejo, a da costureirinha era uma das mais conhecidas. Não é difícil ainda hoje, encontrar pessoas de alguma idade, e não tanta como isso que ouviram a costureirinha nos seus afazeres. O que se ouvia realmente? Segundo diversos testemunhos, ouvia-se distintamente o som de uma máquina de costura das antigas, de pedal, assim como o cortar de uma linha, o rasgar do pano e até mesmo, segundo alguns relatos, o som de uma tesoura a ser pousada. Um trabalho de costura portanto, o som trepidante da máquina podia provir de qualquer parte da casa como por exemplo a cozinha, o quarto de dormir, a casa de fora, e até mesmo de certos alpendres, de tal modo era familiar a sua presença nos lares alentejanos que já não infundia qualquer medo, era simplesmente a costureirinha que trabalhava.

 

Mas afinal quem era esta estranha personagem? Afirma a tradição, que se tratava de uma costureira que em vida, costumava trabalhar ao domingo, não respeitando portanto o dia sagrado. É esta a versão mais conhecida no Alentejo, no entanto outra versão afirma que a costureirinha não cumprira uma promessa feita a S. Francisco, esta última versão aparece referenciada num exemplar do Diário de Notícias do ano 1914 em notícia oriunda das aldeias do Ribatejo. Pelo não cumprimento dos seus deveres religiosos, a costureirinha fora condenada pelo Altíssimo após a morte a errar pelo mundo dos vivos durante um determinado tempo para se redimir de tamanha heresia. No fundo, a costureirinha é uma alma penada que expia os seus pecados de acordo com a crença que tais pecados, o desrespeito pelas coisas sagradas e nomeadamente o não cumprimento de promessas feitas a Deus ou aos Santos podiam levar à errância depois da morte por um longo período de tempo.

 

Nos dias que correm já se pergunta nestas aldeias alentejanas porque se não houve agora a costureirinha, certamente porque terá expiado já o seu fado, terminou o castigo e descansa agora em paz. No entanto e agora sou eu a especular, as urbanizações modernas, a luz elétrica, e os serões da TV, afastaram-na do nosso convívio. Desapareceu naturalmente, com a transformação de uma sociedade rural e arcaica em sociedades modernas que perderam os seus medos com as coisas do além e os direcionaram para medos bem mais reais desta forma moderna de viver e que pouco ou nenhum tempo tem para cultivar estes mitos e lendas que tanto enriquecem quaisquer Pais seja ele moderno ou do terceiro Mundo… Um grande bem-haja ao povo Alentejano…

 

 

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Uploaded on January 4, 2013
Taken on June 9, 2012