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Portugal - Castelo de Marialva - Há uma lenda antiga que fala da Dama Pés de Cabra, original desta terra do concelho de Mêda, ainda hoje, alguns crêem que se vê a criatura a vaguear na torre de menagem do castelo que se encontra em ruínas...

Dentro do imaginário de cada um de nós, haverá certamente momentos em que sonhamos com locais mágicos que nos transportam no tempo a sítios onde jamais chegaríamos de outra maneira, no entanto, se procurarmos com alguma persistência, verificamos que não precisamos sequer de sonhar ou sair do nosso País para encontrar sítios que em muito se aproximam desses lugares imaginários, e se alguém tiver dúvidas desta afirmação, pois que arrepie caminho e se faça à estrada em direção a marialva e talvez se surpreenda por ainda existirem lugares assim…

 

No topo de um penedo granítico, em posição dominante sobre a vila e a planície cortada pela antiga estrada romana, encontra-se estrategicamente colocado na região fronteiriça do rio Côa um Verdadeiro complexo medieval, as suas raízes mergulham nas brumas do tempo e no passado histórico de Portugal, ligando-se ao trágico destino dos Távora. Não se pode afirmar com certezas absolutas qual a origem do nome de Marialva, mas crê-se que terá sido assim atribuído por Fernando Magno como tributo à Virgem Maria (Maria Alba) visto o culto Mariano ser uma prática comum durante os séculos XI e XII. Embora carecendo de maiores estudos acredita-se que a primitiva ocupação humana deste sítio remonte a um castro dos Aravaros, uma das várias tribos em que se dividiam os Lusitanos (não confundir com Avaros, povo que só viria a surgir na Era Cristã e que nunca pisou solo português). Após a Invasão romana da Península Ibérica, sob o reinado dos imperadores Adriano e Trajano novas obras terão ampliado a povoação que se constituiu numa cidade, denominada nos primeiros séculos da Era Cristã como Civitas Aravorum. Dominando a antiga estrada romana que ligava Celorico da Beira ao Douro, a urbe espraiava-se das fraldas da elevação à planície circundante, conforme o testemunho de restos de construções e da documentação epigráfica resgatada dos trabalhos da arqueologia no subsolo da Devesa.

 

Ocupada sucessivamente por Visigodos (que a denominaram como Castro de São Justo), e por Muçulmanos, a povoação viria a entrar em decadência nos séculos seguintes. À época da Reconquista cristã da península, esta foi tomada aos mouros por Fernando Magno, admitindo-se que já existisse uma fortificação na época. Mais tarde D. Afonso Henriques viria a encontrar a povoação abandonada. Para incentivar o seu repovoamento e defesa, passou-lhe Carta de Foral, garantindo privilégios não só aqueles que por iniciativa régia ali se estabeleciam na ocasião, mas a todos os que assim o fizessem no futuro. Embora esse documento não apresente data, acredita-se que tenha sido passado posteriormente a 1158, admitindo-se a data de 1179. Acredita-se que a primitiva feição de seu castelo remonte a esta fase, a partir da observação das características construtivas do aparelho da muralha e de uma das torres. Na transição para o século XIII, o rei D. Sancho I prosseguiu as obras da edificação do castelo, ampliando-lhe os muros que passaram a envolver a vila. O seu filho e sucessor, D. Afonso II, viria a confirmar-lhe o foral em 1217. Em 1296 D. Dinis partiu de Castelo Rodrigo à invasão de Castela, reivindicando as terras além do Côa, que efetivamente vieram a ser incorporadas a Portugal pelo Tratado de Alcanises em 1297. Nesse contexto, Marialva incluía-se no rol das povoações atendidas por aquele monarca, e assim lhe foi procedida a reconstrução do castelo. Este soberano instituiu, em 1286, a feira mensal de três dias, oferecendo privilégios a quem ali praticasse o comércio, visando o mesmo objetivo de incentivo ao povoamento.

 

À época, a vila já se espalhava extramuros, na direção Norte. Com a crise de 1383-1385, Marialva e o seu castelo tomaram o partido do Mestre de Avis. No século XV, D. Afonso V concedeu-lhe o título de condado tendo D. Vasco Fernandes Coutinho recebido o título de conde de Marialva no ano de 1440. As "Memórias Paroquiais de 1758" referem que, no início do século XVIII, as muralhas, as quatro torres e as quatro portas, se encontravam em perfeito estado. Entretanto, na segunda metade do mesmo século a situação inverteu-se: a tentativa de regicídio contra D. José I em 1758 causou profundas repercussões na vila de Marialva, uma vez que era o seu alcaide à época, o marquês de Távora, um dos principais implicados no atentado. A partir da sentença da família Távora em Lisboa, no ano seguinte, a população da vila começou a abandoná-la, resumindo-se os seus moradores à área extramuros dos arrabaldes a Oeste e da Devesa, no sopé da encosta a Sul hoje o local mais desenvolvido de Marialva. Apenas no final do século XX este conjunto arquitetónico despertou o interesse público, tendo sido classificado como Monumento Nacional através do Decreto de 12 de Setembro de 1978. A formalização de um protocolo entre o IPPC e a Câmara Municipal de Meda em 1986 possibilitou a realização de obras de recuperação e beneficio neste conjunto monumental. A zona urbana compreendida no interior das muralhas foi vítima do tempo e do abandono, mas ainda se podem percorrer os caminhos revestidos a calçada portuguesa, especialmente na zona da Praça, neste espaço podem ainda ser observadas alguns conjuntos de ruínas e outros edifícios mais recentes, destacando-se a antiga casa da Câmara, Tribunal e Cadeia. O pelourinho - possivelmente do século XVI com características manuelinas, ergue-se num plano ligeiramente inclinado e está assente em quatro degraus de fora octogonal. A coluna é de fuste liso e rematada por um capitel em forma de pirâmide invertida, também de secção octogonal. O conjunto é coroado com outra pirâmide octogonal com uma esfera esguia no topo e que é separada da pirâmide inferior por uma pequena coluna central fina e apoios de ferro.

 

As duas igrejas estão assentes numa plataforma horizontal e que são visíveis nesta foto acima, são a Igreja da Misericórdia ou Igreja do Senhor dos Passos - possivelmente do século XVII em estilo maneirista de inspiração clássica. Apresenta uma planta retangular simples e um portal de linhas retas na fachada principal, rematado por um frontão em que se insere um nicho com abóbada em forma de concha, no interior encontra-se um retábulo em talha dourada e policromada que deverá ter sido introduzido no século XVIII.A Igreja de Santiago - edificada em 1585, apresenta características manuelinas e barrocas, constituída por uma nave retangular única de cobertura em abóbada totalmente revestida a talha sem pintura e sacristia anexada. A fachada principal é composta por um portal em arco pleno com remate de linhas entrelaçadas. Há uma lenda em Portugal que fala da Dama Pés de Cabra. Existem várias versões, sendo a original aqui de Marialva, concelho de Mêda, no distrito da Guarda. Até hoje, alguns crêem que se pode ver a Dama Péz de Cabra a vaguear na torre de menagem do castelo que se encontra em ruínas. Dizem mesmo que o nome de Marialva tem origem no nome desta dama muçulmana, que se chamava Maria Alva. A Lenda transmitida de boca em boca ao longo dos séculos e com variações como todas as Lendas, surgiu na tentativa de explicar o nome da terra e como não podia deixar de ser, tem muito a ver com histórias e lendas imaginadas na Idade Media, o Tempo das trevas e dos Castelos…Esta é uma das muitas Lendas e reza assim:

 

A Lenda da Aldeia Histórica de Marialva

 

Reza a lenda que um nobre senhor da Biscaia chamado D. Diogo Lopes era um caçador infatigável, não se importava com o calor, a neve, nem se era de dia ou de noite quando andava a caça. Um dia bem cedinho, esperava ele um porco-montês que estava a ser emboscado numa caçada. Mas então, ao invés de ouvir o porco a aproximar-se ouviu um belo canto, olhou adiante, para um penedo, e viu sentada sobre ele uma formosa dama de uma beleza arrebatadora e sem igual cantando. D. Diogo nem se lembrou mais do porco e correu o mais rápido possível até o penhasco, ai chegado pergunta então à bela dama quem era, ao que esta lhe responde ser tão nobre quanto ele e que o seu nome era Maria Alva. D. Diogo oferece o seu coração à dama, assim como as suas terras e vassalos. Ela pouco interesse mostrou pela oferta, dizendo que ele precisava mais dos seus bens do que ela. D. Diogo pergunta então o que poderia oferecer-lhe para que fosse digno do seu amor. É quando a bela dama lhe diz que a única coisa que precisava fazer para que ela fosse sua seria esquecer-se do sinal da cruz para o resto da sua vida. Caindo em tentação, D. Digo pesou prós e contras, e chegou à conclusão que se fizesse algumas boas ações em nome de Deus, até valia a pena nunca mais se benzer, desde que ficasse com aquela bela senhora.

 

Concordou assim D. Diogo com a sua exigência e levou-a para o seu castelo, mas à noite, quando pôde vislumbrar a formosa dama mais atentamente da cabeça aos pés é que notou que ela tinha os pés como os de uma cabra. Mesmo com esta estranha deficiência, dama e cavaleiro viveram felizes, chegando mesmo a ter dois filhos, Dom Inigo Guerra e Dom Sol. Nesse tempo o Senhor D. Diogo tinha um cão da raça alano, tão destemido quanto ele próprio para as caçadas. Já a sua amada Dama, tinha uma cadela podenga de pelo muito negro. Enquanto o alano estava prostrado sem querer saber de nada, a podenga não parava de pular e só queria brincadeira. D. Diogo, tentando animar o seu cão, deu-lhe um grande osso, mas no final das contas a podenga roubou-lhe o osso e no meio da confusão feriu gravemente o alano. D. Diogo, assustado com o que fizera a cadela, começou a dizer que aquilo era coisa do diabo e fez o sinal da cruz, conforme se benzia, a mulher começou a gritar como se estivesse a arder numa fogueira, com os olhos brilhantes, o rosto enegrecido, a boca retorcida e os cabelos arrepiados! Ao mesmo tempo, começou a levitar, a subir, com a filha segura no braço esquerdo e de mão dada ao menino. D. Diogo entrou em pânico ao ver a cena, e quanto mais a mulher subia pelos ares, mais o seu braço se estendia segurando o menino. D. Diogo agarrou o filho e segurou-o firmemente enquanto a mulher terminava a sua subida e sumia com a menina na imensidão do Céu, assim como a mulher, também a sua cadela sumiu sem deixar rastro.

 

D. Diogo, profundamente triste, passou muito tempo sem saber o que fazer, até que resolveu voltar a lutar contra os mouros. Nesta época, Dom Inigo já era um rapaz, D. Diogo deixou tudo nas mãos do filho e partiu, ficando muito tempo sem dar qualquer notícia do seu paradeiro, era a sua penitência por ter vivido tantos anos com aquela mulher de pés de cabra. Mataria tantos mouros quanto os dias que vivera com ela, e lutaria por tantos anos quantos os anos de Felicidade junto dela, eis quando numa batalha acabou por tornar-se prisioneiro em Toledo. Os seus aliados de guerra faziam trocas de prisioneiros, mas nunca tiveram consigo um mouro de tão grande nobreza como D. Diogo, nunca conseguindo assim prisioneiros suficientes para a troca. Sem saber como poderia ajudar o seu pai, Dom Inigo decidiu procurar a sua mãe, que se tornara uma fada para a maioria dos habitantes da aldeia, segundo outros, uma alma penada. A Dama dos Pés de Cabra aceitou ajudar o seu filho, dando-lhe um onagro, espécie de cavalo selvagem, que o levou a Toledo. Quando chegaram, o cavalo abriu a porta da cela com um coice e pai e filho cavalgaram em fuga durante longas horas, mas no decorrer do caminho viram um cruzeiro de pedra que fez o cavalo parar.

 

A voz da Dama dos pés de Cabra indicou ao cavalo para este evitar a cruz, D. Diogo depois de tantos anos e sem saber da aliança do filho com a sua mãe, benzeu-se ao ouvir a voz da sua amada, tal gesto fez com que o onagro o cuspisse da sua cela e do nada a Terra começou a tremer, uma fenda abriu-se e era possível ver o fogo do inferno que engoliu o animal. Com o susto, pai e filho desmaiaram. Depois de recolhidos pelos seus vassalos e ao chegar às suas terras D. Diogo penalizou-se, indo todos os dias à missa e confessando-se todas as semanas. Mas não viveu muito mais tempo, fosse pela idade ou por a sua consciência, não se sabe ao certo, o que se sabe é que passados apenas alguns anos, D. Diogo faleceu, deixando o título de Senhor de Biscaia para o seu filho Inigo. Já D. Inigo, depois do resgate do pai, nunca mais entrou numa igreja. Ninguém sabe qual foi o acordo que fez com a sua mãe para conseguir resgatar o seu pai, mas entrar em igrejas la isso não entrou mais. Muito se disse sobre isto, inclusive que fizera um pacto com o Diabo. E para acrescentar a esta desconfiança das pessoas, D. Inigo, desde então, tornara-se imbatível, nunca mais perdendo uma batalha.

 

Diz-se ainda que a terra tomou o nome da linda Princesa que se tornou senhora de D. Diogo e mais tarde uma fada encantada mas que para muitos, mais não era que uma alma penada, de seu nome, Maria Alva: MARIALVA…

 

 

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Uploaded on November 15, 2012
Taken on November 10, 2012