FOTOGRAFIAS COM HISTÓRIA
Portugal – Braga a cidade dos Arcebispos - Os vestígios da presença humana nesta região datam de há milhares de anos. No entanto, apenas se consegue provar a existência de aglomerados populacionais em Braga a partir da Idade do Bronze.
Para mim, apesar de não ser Bracarense, falar desta cidade implica uma enorme responsabilidade, não só pela sua história mas também pelo apreço pessoal que tenho por esta magnifica cidade. Braga é das mais antigas cidades portuguesas e uma das cidades cristãs mais antigas do mundo; fundada no tempo dos romanos no decurso do século II a.C. Toda esta região foi por eles tomada e aqui edificaram a cidade no ano 16 a.C., com a designação de Bracara Augusta que já conta com mais de 2000 anos de História como cidade, em homenagem ao Imperador César Augusto e que a partir dai nunca mais deixou a sua importância como grande cidade cair no esquecimento, como infelizmente aconteceu com muitas outras grandes cidades da época, tornando-se mesmo na capital da região da Gallaecia. Após a conquista do império romano, Bracara Augusta tornou-se na capital política e intelectual do reino dos Suevos, que abarcava a Galiza e se prolongava até ao Rio Tejo aonde por ordem do rei Ariamiro se realizou o concílio de Braga.
No ano de 716, os Mouros alcançam a cidade e provocam dentro de portas uma grande destruição, dada a sua importância religiosa. Na época, foi também palco de várias guerras, roubos e destruição. Mais tarde, foi reconquistada por Afonso III, Rei das Astúrias. No século XI a cidade é reorganizada, provavelmente com a nova designação de "Braga". É iniciada a construção da muralha citadina e da Sé, por ordem do bispo D. Pedro de Braga, sobre restos de um antigo templo romano dedicado à Deusa Ísis, que teria mais tarde sido convertida numa igreja Cristã. A cidade desenvolve-se em torno da Sé, ficando restringida ao perímetro amuralhado, que embora parecesse um castelo nunca terá passado de uma fortificação para impedir que a história se voltasse a repetir por falta de meios de defesa.
Braga foi nessa altura oferecida como dote, por Afonso VI de Castela, à sua filha D. Teresa, no seu casamento com D. Henrique de Borgonha, Conde de Portugal. Estes últimos foram senhores da cidade entre 1096 a 1112, nesse mesmo ano doam a cidade aos Arcebispos. Com a elevação do bispado bracarense a arcebispado, a cidade readquire uma enorme importância a nível Ibérico.
Sob o reinado de D. Dinis (1279-1325), a muralha citadina é requalificada, é ainda construída a torre de menagem. Mais tarde, foram adicionadas nove torres, de planta quadrangular, à muralha existente, concluindo-se também o Castelo de Braga em torno da torre de menagem existente. Infelizmente muita dessa sua beleza hoje não passa de uma ilusão, pois quase nada resta de todo esse património que possa testemunhar a grandeza que outrora terá glorificado toda esta região. No século XVI, o Arcebispo de Braga D. Diogo de Sousa modifica a cidade profundamente, introduzindo-lhe ruas, praças e novos edifícios provocando assim o crescimento para além do perímetro amuralhado. Do século XVI ao século XVIII, por intermédio de vários arcebispos, os edifícios de traça medieval vão sendo apagados e substituídos por edifícios de Arquitetura religiosa da época. No século XVIII, Braga por imposição da inspiração artística de André Soares (Arquiteto 1720-69) transforma-se no Ex-Libris do Barroco em Portugal. Mais uma vez, por intermédio de vários arcebispos, os edifícios religiosos são novamente alterados com a introdução do Barroco e o Neoclássico. Nos cem anos que se seguem, irrompem conflitos devido às invasões francesas e lutas liberais. A cidade é palco de violentas batalhas e vítima de vários saques realizados pelas tropas napoleónicas. Em 1834, com o fim das lutas liberais, são expulsas várias ordens religiosas da cidade, deixando ai o seu espólio que em muito contribuiu para a riqueza e grandeza de Braga. Em consequência da Revolta da Maria da Fonte na Póvoa de Lanhoso, área sob jurisdição do quartel militar de Braga, a cidade é palco de importantes confrontos entre o povo e as autoridades.
No final do século XIX, o centro da cidade deixa a área da Sé de Braga e passa para a Avenida Central. Em 1875, é inaugurada pelo Rei D. Luís a linha e estação dos caminhos-de-ferro de Braga. No século XX, dá-se a revolução dos transportes e das infraestruturas básicas, reformula-se a Avenida da Liberdade, de onde se destaca o Teatro Circo e os edifícios do lado nascente. O general Gomes da Costa inicia nesta cidade a Revolução de 28 de Maio de 1926. Por fim, no final deste século, Braga sofre um grande desenvolvimento e converte-se na terceira cidade do País, estatuto que mantém nos nossos dias. E também conhecida de muitos por Capital do Minho.
Um dos edifícios mais antigos ainda em funcionamento está voltado para o Jardim de Santa Bárbara, sendo conhecido como Paço Medieval de Braga (na foto acima). Foi erguido nos finais da Idade Média por iniciativa dos arcebispos D. Gonçalo Pereira e D. Fernando da Guerra, nos séculos XIV e XV. Constitui-se numa edificação sóbria com a aparência de uma fortificação ou castelo, de características e épocas distintas, sendo que a ala nascente voltada para o Jardim de Sta. Bárbara em estilo Gótico se destaca pela solidez do aparelho regular de blocos graníticos, vãos de janelas em arco ogival e encimado por ameias. Atualmente encontra-se ocupado pelo Arquivo Distrital de Braga. O Paço arquiepiscopal de Braga é um dos monumentos mais emblemáticos da cidade e, simultaneamente, um dos que mais intimamente está ligado à história da urbe, desde os tempos medievais até à atualidade. Desconhecemos quase tudo em relação às suas origens, com certeza contemporâneas da criação da diocese e, posteriormente, do arcebispado, mas a partir do século XIV, e durante os seis séculos seguintes, a história do monumento é de tal forma rica que dificulta mesmo qualquer estudo monográfico do conjunto. São quatro as grandes fases de construção do monumento, ainda hoje bem visíveis. A principal, e a que possui maior impacto, é a gótica. O seu início deve remontar à década de 30 do século XIV, altura em que o arcebispado era regido por D. Gonçalo Pereira, mas a sua configuração geral pertence já ao século XV, na sequência da campanha construtiva empreendida por D. Fernando da Guerra, arcebispo entre 1422 e 1436. Sob o comando de Mestre Fernão Martins, as obras duraram cerca de duas décadas, estando a torre principal concluída em 1439. Este corpo gótico foi bastante adulterado no século XX, mas mantém algumas das características essenciais. A segunda grande campanha construtiva deste espaço ocorreu no século XVI. Por iniciativa de D. Diogo de Sousa, um dos arcebispos incontornáveis da história bracarense, as obras privilegiaram as fachadas que confrontavam com a Rua do Souto, aquela que mais diretamente dava para o centro histórico. Dois equipamentos marcam claramente esta campanha e revelam bem o conteúdo erudito, cenográfico e de prestígio pretendido: diante da fachada principal, a Fonte dos Castelos (assim denominada por apresentar uma decoração essencialmente com castelos) impressiona pela sua dimensão; a Leste, uma grande galeria, de feição maneirista, de dois registos sendo o térreo parcialmente aberto em arcadas que reforça a planta quadrangular da praça.
Lendas e crenças
Decorria o ano de 555 e era Teodomiro Rei dos suevos, tendo a sua corte em Braga. Adoecendo gravemente o seu filho primogénito, prometeu a S. Martinho Turonense abjurar ao arianismo, se este sarasse de tao grave maleita, Teodomiro enviou de imediato alguns ministros visitar o santo sepulcro, levando várias ofertas; mas ao voltaram a moléstia do Príncipe continuava. Então o rei deliberou dedicar-lhe um templo, e tornou a mandar os ministros, ainda com maiores ofertas, á sepultura do santo, para estes obterem alguma relíquia do mesmo. Os ministros cumpriram as ordens do rei, e de lá trouxeram, como relíquia, uma parte da sua capa. Quando chegaram a Braga, saiu o rei a recebe-los com o seu filho, já completamente restabelecido acompanhado dos grandes da sua corte e uma grande multidão de povo em respeito e veneração á santa relíquia. O santo premiou logo a fé religiosa d’estes povos, que padecendo até então da moléstia da lepra e outras maleitas, desde logo se acharam livres daquele contágio, que era geral no país. Consta que no mesmo navio, que trouxe a santa relíquia da cidade de Tours (França) vinha um santo varão, de origem húngara, chamado Martinho, que regressava dos lugares santos da Palestina, onde tinha adquirido vastos conhecimentos nas ciências orientais. Outros dizem que Martinho embarcara numa galé num porto da Grécia, e se fizera a vela ao mesmo tempo que da França saíra o navio com a relíquia, chegando a Braga ao mesmo tempo que os mensageiros do Rei. Teodomiro, tendo notícia da sua virtude e letras, logo se valeu dele para a conversão dos seus povos ao catolicismo. Tinha Teodomiro já edificado nos arrabaldes de Braga, num sítio chamado Dume, um templo de invocação a S. Martinho, que entregou ao virtuoso húngaro, que logo nele introduziu a vida monacal, e pouco depois foi elevado á dignidade episcopal. A conversão do rei ao grémio da Igreja arrastou consigo em muito pouco tempo toda a corte e por arrasto, todos os povos que com a maior facilidade abjuraram ao arianismo, tornando-se a partir de então toda a cidade de Braga numa cidade Cristã.
S. Pedro de Rates - Entre a Lenda e a Tradição
Conta a tradição que S. Pedro de Rates foi convertido ao Cristianismo pelo Apóstolo S. Tiago, aquando da sua peregrinação pela Hispânica, no século I. Durante essa viagem, cumprindo a missão de difundir a mensagem de Cristo, morto e ressuscitado havia pouco tempo, foi deixando sementes que germinaram e fortaleceram as raízes da Igreja Católica, num império hostil à nova Fé. Pedro seria um dos 7 varões ordenados pelo Apóstolo, em Santiago de Compostela, e nomeado bispo de Braga. Na lenda, o episódio que fez dele um mártir teve origem num milagre: solicitado para curar de uma doença fatal a filha de um poderoso pagão, S. Pedro de Rates conseguiu-lhe tal dádiva. Reconhecida, converteu-se ao Cristianismo, o que causou a ira do ingrato pai e consequente desejo de vingança. Avisado, o Santo refugiou-se em Rates, mas foi aí encontrado e assassinado, ficando sepultado sob as ruínas da pequena capela onde tudo aconteceu, pois, à semelhança da vida do religioso, também esta foi destruída. Tempos mais tarde, do alto do monte onde se refugiara, o eremita S. Félix vislumbrava uma luz na escuridão. Guiado pela curiosidade e pela convicção de um chamamento piedoso dirigiu-se ao local, procedeu à remoção das pedras e encontrou a causa de tal clarão: o corpo de S. Pedro de Rates. A transladação do corpo intacto para a Sé de Braga faz, também, parte da lenda. Os fatos reportam-se somente à transferência, no século XVI, pelo arcebispo Frei Baltazar Limpo, de relíquias do Santo (pequenos ossos que análises realizadas posteriormente apontam ter pertencido a uma criança com cerca de 12 anos). O corpo, se alguma vez existiu, teria desaparecido há já muito tempo… Invocado para muitas graças, S. Pedro de Rates está, no entanto, associado à esterilidade. De uma antiga fonte com o seu nome diz-se que se poderia obter a cura da enfermidade, cumprindo o seguinte ritual: a mulher deveria sentar-se sobre uma pedra furada que aí existia. Talvez por ser mercê tão divina, tem o Santo fama de vingativo para com quem não cumpre o prometido. É, provavelmente por receio desse mau humor, que muitas mulheres grávidas guardam o dia do Santo – 26 de Abril – e até para os animais fêmeas no mesmo estado, não é aconselhável a sua utilização nos trabalhos domésticos e de campo...Vamos lá nós perceber tais atitudes que além demais não passam de Lendas...
Embora hoje se saiba a verdade com muito rigor histórico, essa mesma verdade muito certamente só será usada pelos eruditos e historiadores, muito do povo continua a não querer saber de tais estudos pois iriam com certeza afundar a magia de que todas estas lendas e crenças se alimentam e tanto delas necessitam para sobreviver ao longo dos tempos imemoriais e dos séculos passados e vindouros… Eu, muito sinceramente também me inclino para fazer parte desse povo… Felizes os inocentes…
Quanto mais procuro a sabedoria mais me arrependo de o ter feito… Anselmo Sousa
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Portugal – Braga a cidade dos Arcebispos - Os vestígios da presença humana nesta região datam de há milhares de anos. No entanto, apenas se consegue provar a existência de aglomerados populacionais em Braga a partir da Idade do Bronze.
Para mim, apesar de não ser Bracarense, falar desta cidade implica uma enorme responsabilidade, não só pela sua história mas também pelo apreço pessoal que tenho por esta magnifica cidade. Braga é das mais antigas cidades portuguesas e uma das cidades cristãs mais antigas do mundo; fundada no tempo dos romanos no decurso do século II a.C. Toda esta região foi por eles tomada e aqui edificaram a cidade no ano 16 a.C., com a designação de Bracara Augusta que já conta com mais de 2000 anos de História como cidade, em homenagem ao Imperador César Augusto e que a partir dai nunca mais deixou a sua importância como grande cidade cair no esquecimento, como infelizmente aconteceu com muitas outras grandes cidades da época, tornando-se mesmo na capital da região da Gallaecia. Após a conquista do império romano, Bracara Augusta tornou-se na capital política e intelectual do reino dos Suevos, que abarcava a Galiza e se prolongava até ao Rio Tejo aonde por ordem do rei Ariamiro se realizou o concílio de Braga.
No ano de 716, os Mouros alcançam a cidade e provocam dentro de portas uma grande destruição, dada a sua importância religiosa. Na época, foi também palco de várias guerras, roubos e destruição. Mais tarde, foi reconquistada por Afonso III, Rei das Astúrias. No século XI a cidade é reorganizada, provavelmente com a nova designação de "Braga". É iniciada a construção da muralha citadina e da Sé, por ordem do bispo D. Pedro de Braga, sobre restos de um antigo templo romano dedicado à Deusa Ísis, que teria mais tarde sido convertida numa igreja Cristã. A cidade desenvolve-se em torno da Sé, ficando restringida ao perímetro amuralhado, que embora parecesse um castelo nunca terá passado de uma fortificação para impedir que a história se voltasse a repetir por falta de meios de defesa.
Braga foi nessa altura oferecida como dote, por Afonso VI de Castela, à sua filha D. Teresa, no seu casamento com D. Henrique de Borgonha, Conde de Portugal. Estes últimos foram senhores da cidade entre 1096 a 1112, nesse mesmo ano doam a cidade aos Arcebispos. Com a elevação do bispado bracarense a arcebispado, a cidade readquire uma enorme importância a nível Ibérico.
Sob o reinado de D. Dinis (1279-1325), a muralha citadina é requalificada, é ainda construída a torre de menagem. Mais tarde, foram adicionadas nove torres, de planta quadrangular, à muralha existente, concluindo-se também o Castelo de Braga em torno da torre de menagem existente. Infelizmente muita dessa sua beleza hoje não passa de uma ilusão, pois quase nada resta de todo esse património que possa testemunhar a grandeza que outrora terá glorificado toda esta região. No século XVI, o Arcebispo de Braga D. Diogo de Sousa modifica a cidade profundamente, introduzindo-lhe ruas, praças e novos edifícios provocando assim o crescimento para além do perímetro amuralhado. Do século XVI ao século XVIII, por intermédio de vários arcebispos, os edifícios de traça medieval vão sendo apagados e substituídos por edifícios de Arquitetura religiosa da época. No século XVIII, Braga por imposição da inspiração artística de André Soares (Arquiteto 1720-69) transforma-se no Ex-Libris do Barroco em Portugal. Mais uma vez, por intermédio de vários arcebispos, os edifícios religiosos são novamente alterados com a introdução do Barroco e o Neoclássico. Nos cem anos que se seguem, irrompem conflitos devido às invasões francesas e lutas liberais. A cidade é palco de violentas batalhas e vítima de vários saques realizados pelas tropas napoleónicas. Em 1834, com o fim das lutas liberais, são expulsas várias ordens religiosas da cidade, deixando ai o seu espólio que em muito contribuiu para a riqueza e grandeza de Braga. Em consequência da Revolta da Maria da Fonte na Póvoa de Lanhoso, área sob jurisdição do quartel militar de Braga, a cidade é palco de importantes confrontos entre o povo e as autoridades.
No final do século XIX, o centro da cidade deixa a área da Sé de Braga e passa para a Avenida Central. Em 1875, é inaugurada pelo Rei D. Luís a linha e estação dos caminhos-de-ferro de Braga. No século XX, dá-se a revolução dos transportes e das infraestruturas básicas, reformula-se a Avenida da Liberdade, de onde se destaca o Teatro Circo e os edifícios do lado nascente. O general Gomes da Costa inicia nesta cidade a Revolução de 28 de Maio de 1926. Por fim, no final deste século, Braga sofre um grande desenvolvimento e converte-se na terceira cidade do País, estatuto que mantém nos nossos dias. E também conhecida de muitos por Capital do Minho.
Um dos edifícios mais antigos ainda em funcionamento está voltado para o Jardim de Santa Bárbara, sendo conhecido como Paço Medieval de Braga (na foto acima). Foi erguido nos finais da Idade Média por iniciativa dos arcebispos D. Gonçalo Pereira e D. Fernando da Guerra, nos séculos XIV e XV. Constitui-se numa edificação sóbria com a aparência de uma fortificação ou castelo, de características e épocas distintas, sendo que a ala nascente voltada para o Jardim de Sta. Bárbara em estilo Gótico se destaca pela solidez do aparelho regular de blocos graníticos, vãos de janelas em arco ogival e encimado por ameias. Atualmente encontra-se ocupado pelo Arquivo Distrital de Braga. O Paço arquiepiscopal de Braga é um dos monumentos mais emblemáticos da cidade e, simultaneamente, um dos que mais intimamente está ligado à história da urbe, desde os tempos medievais até à atualidade. Desconhecemos quase tudo em relação às suas origens, com certeza contemporâneas da criação da diocese e, posteriormente, do arcebispado, mas a partir do século XIV, e durante os seis séculos seguintes, a história do monumento é de tal forma rica que dificulta mesmo qualquer estudo monográfico do conjunto. São quatro as grandes fases de construção do monumento, ainda hoje bem visíveis. A principal, e a que possui maior impacto, é a gótica. O seu início deve remontar à década de 30 do século XIV, altura em que o arcebispado era regido por D. Gonçalo Pereira, mas a sua configuração geral pertence já ao século XV, na sequência da campanha construtiva empreendida por D. Fernando da Guerra, arcebispo entre 1422 e 1436. Sob o comando de Mestre Fernão Martins, as obras duraram cerca de duas décadas, estando a torre principal concluída em 1439. Este corpo gótico foi bastante adulterado no século XX, mas mantém algumas das características essenciais. A segunda grande campanha construtiva deste espaço ocorreu no século XVI. Por iniciativa de D. Diogo de Sousa, um dos arcebispos incontornáveis da história bracarense, as obras privilegiaram as fachadas que confrontavam com a Rua do Souto, aquela que mais diretamente dava para o centro histórico. Dois equipamentos marcam claramente esta campanha e revelam bem o conteúdo erudito, cenográfico e de prestígio pretendido: diante da fachada principal, a Fonte dos Castelos (assim denominada por apresentar uma decoração essencialmente com castelos) impressiona pela sua dimensão; a Leste, uma grande galeria, de feição maneirista, de dois registos sendo o térreo parcialmente aberto em arcadas que reforça a planta quadrangular da praça.
Lendas e crenças
Decorria o ano de 555 e era Teodomiro Rei dos suevos, tendo a sua corte em Braga. Adoecendo gravemente o seu filho primogénito, prometeu a S. Martinho Turonense abjurar ao arianismo, se este sarasse de tao grave maleita, Teodomiro enviou de imediato alguns ministros visitar o santo sepulcro, levando várias ofertas; mas ao voltaram a moléstia do Príncipe continuava. Então o rei deliberou dedicar-lhe um templo, e tornou a mandar os ministros, ainda com maiores ofertas, á sepultura do santo, para estes obterem alguma relíquia do mesmo. Os ministros cumpriram as ordens do rei, e de lá trouxeram, como relíquia, uma parte da sua capa. Quando chegaram a Braga, saiu o rei a recebe-los com o seu filho, já completamente restabelecido acompanhado dos grandes da sua corte e uma grande multidão de povo em respeito e veneração á santa relíquia. O santo premiou logo a fé religiosa d’estes povos, que padecendo até então da moléstia da lepra e outras maleitas, desde logo se acharam livres daquele contágio, que era geral no país. Consta que no mesmo navio, que trouxe a santa relíquia da cidade de Tours (França) vinha um santo varão, de origem húngara, chamado Martinho, que regressava dos lugares santos da Palestina, onde tinha adquirido vastos conhecimentos nas ciências orientais. Outros dizem que Martinho embarcara numa galé num porto da Grécia, e se fizera a vela ao mesmo tempo que da França saíra o navio com a relíquia, chegando a Braga ao mesmo tempo que os mensageiros do Rei. Teodomiro, tendo notícia da sua virtude e letras, logo se valeu dele para a conversão dos seus povos ao catolicismo. Tinha Teodomiro já edificado nos arrabaldes de Braga, num sítio chamado Dume, um templo de invocação a S. Martinho, que entregou ao virtuoso húngaro, que logo nele introduziu a vida monacal, e pouco depois foi elevado á dignidade episcopal. A conversão do rei ao grémio da Igreja arrastou consigo em muito pouco tempo toda a corte e por arrasto, todos os povos que com a maior facilidade abjuraram ao arianismo, tornando-se a partir de então toda a cidade de Braga numa cidade Cristã.
S. Pedro de Rates - Entre a Lenda e a Tradição
Conta a tradição que S. Pedro de Rates foi convertido ao Cristianismo pelo Apóstolo S. Tiago, aquando da sua peregrinação pela Hispânica, no século I. Durante essa viagem, cumprindo a missão de difundir a mensagem de Cristo, morto e ressuscitado havia pouco tempo, foi deixando sementes que germinaram e fortaleceram as raízes da Igreja Católica, num império hostil à nova Fé. Pedro seria um dos 7 varões ordenados pelo Apóstolo, em Santiago de Compostela, e nomeado bispo de Braga. Na lenda, o episódio que fez dele um mártir teve origem num milagre: solicitado para curar de uma doença fatal a filha de um poderoso pagão, S. Pedro de Rates conseguiu-lhe tal dádiva. Reconhecida, converteu-se ao Cristianismo, o que causou a ira do ingrato pai e consequente desejo de vingança. Avisado, o Santo refugiou-se em Rates, mas foi aí encontrado e assassinado, ficando sepultado sob as ruínas da pequena capela onde tudo aconteceu, pois, à semelhança da vida do religioso, também esta foi destruída. Tempos mais tarde, do alto do monte onde se refugiara, o eremita S. Félix vislumbrava uma luz na escuridão. Guiado pela curiosidade e pela convicção de um chamamento piedoso dirigiu-se ao local, procedeu à remoção das pedras e encontrou a causa de tal clarão: o corpo de S. Pedro de Rates. A transladação do corpo intacto para a Sé de Braga faz, também, parte da lenda. Os fatos reportam-se somente à transferência, no século XVI, pelo arcebispo Frei Baltazar Limpo, de relíquias do Santo (pequenos ossos que análises realizadas posteriormente apontam ter pertencido a uma criança com cerca de 12 anos). O corpo, se alguma vez existiu, teria desaparecido há já muito tempo… Invocado para muitas graças, S. Pedro de Rates está, no entanto, associado à esterilidade. De uma antiga fonte com o seu nome diz-se que se poderia obter a cura da enfermidade, cumprindo o seguinte ritual: a mulher deveria sentar-se sobre uma pedra furada que aí existia. Talvez por ser mercê tão divina, tem o Santo fama de vingativo para com quem não cumpre o prometido. É, provavelmente por receio desse mau humor, que muitas mulheres grávidas guardam o dia do Santo – 26 de Abril – e até para os animais fêmeas no mesmo estado, não é aconselhável a sua utilização nos trabalhos domésticos e de campo...Vamos lá nós perceber tais atitudes que além demais não passam de Lendas...
Embora hoje se saiba a verdade com muito rigor histórico, essa mesma verdade muito certamente só será usada pelos eruditos e historiadores, muito do povo continua a não querer saber de tais estudos pois iriam com certeza afundar a magia de que todas estas lendas e crenças se alimentam e tanto delas necessitam para sobreviver ao longo dos tempos imemoriais e dos séculos passados e vindouros… Eu, muito sinceramente também me inclino para fazer parte desse povo… Felizes os inocentes…
Quanto mais procuro a sabedoria mais me arrependo de o ter feito… Anselmo Sousa
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