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Polónia – Auschwitz – Birkenau - 27 de Janeiro de 1945 - 70 Anos depois da libertação do inferno que nunca deveria ter existido e que jamais deverá ser esquecido. Esta é a minha humilde homenagem a todas as vítimas, é por elas que escrevo…

Neste dia de triste memória, devemos fazer uma reflexão que homenageie todas as vítimas desta monstruosidade, que ultrapassou todos os padrões da barbárie e que jamais deverá ser esquecido. Nunca uma ideologia valeu tanto e os valores humanos tão pouco… Nunca a demência e a perversidade humana foi tão fundo… Neste inferno, a esperança teria sido a maior das forças humanas, se não existisse o desespero…

Passados setenta anos do mais negro episódio da história da humanidade, tudo se passa como se a vida tranquila do povo europeu, beneficia-se agora de uma espécie de apólice de seguro que lhe garante uma paz eterna. As maiores catástrofes criadas por o ser humano no século XX, e que na sua maioria não esqueceram a Europa à sua passagem, já quase não são lembradas por estas novas gerações, um passado que de tão distante, já não tem sentido existencial, apesar das inúmeras cerimónias e comemorações em que os atos de heroísmo das vítimas, são evocados nos adornados discursos de uma classe política que também ela, pouco faz para manter viva a dignidade e a memória de milhões de vítimas. A maioria faz-se representar, para de imediato se afastar, lembrando a si mesmos que nada tiveram a ver com tamanha atrocidade, é um facto, no entanto, não deveriam esquecer que foi a classe que representam, associada a alguns militares de topo, os principais responsáveis por tais atos.

Eu tenho receio que tal esquecimento, um destes dias nos leve a recuar algumas décadas no tempo, caindo exatamente nos mesmos erros, é isso que a história nos ensina, não tenhamos elozões, só não vê quem não quer!

Ficará o século XX na memória dos homens como o terrível século das grandes catástrofes humanas? Para responder corretamente a esta questão, precisaria de saber o que o futuro nos reserva, porém, de uma coisa tenho a certeza, foram 70 anos de guerras e revoluções que farão deste século, um dos mais mortíferos e negros da história da humanidade, por muito que esta dure. As campanhas de Napoleão, ainda estavam muito distantes de poderem anunciar Verdum, a batalha mais longa, e uma das mais devastadoras em termos de baixas, da Primeira Guerra Mundial e da história militar, onde a lama das trincheiras acabaria por se confundir com a dos homens na mesma proporção, o cerco de Leninegrado, onde os vivos já não tinham força para enterrar os mortos, ou a batalha de Kursk, a maior batalha de blindados de todos os tempos, onde os sobreviventes já não conseguiam distinguir o dia da noite. Se compararmos tudo isto com a revolução Francesa, constatamos que esta, não foi mais do que uma pálida antecipação das revoluções e dos genocídios que se avizinhavam. Edgar Quinet pressentiu-o bem, ele que em 1865 comparava a morte dos condenados do terror, executados em plena luz do dia nas praças de Paris, com a dos futuros deportados nos desertos gelados da Sibéria.

«Aquilo de que o terror necessita, é dos suplícios escondidos e surdos; exílios distantes em climas decididamente homicidas, prisões de onde ninguém saía vivo… Eis os castigos adequados, pela sua natureza, a um regime de pavor… A morte na sombra, muito longe dos vivos, desconhecida, escondida, sem eco, eis o verdadeiro terror.»

E ainda ele não tinha conhecimento que lhe permitisse evocar a campanha de canibalismo que grassou a uma escala muito mais elevada do que aquela que possamos imaginar na China, na Província de Guangxi, no paroxismo da Revolução Cultural Chinesa de 1966, numa regressão coletiva e monstruosa em que os inimigos do povo deveriam ser comidos.

Nem o intelectual e espiritual do mundo contemporâneo, nem a violência omnipresente em tudo que nos rodeia, contribui para que possamos ser otimistas em relação ao futuro, senão, vejamos as notícias com que somos bombardeados todos os dias, como a situação da Ucrânia, a Síria, a criação de um pretenso estado Islâmico ou a morte sempre presente no continente Africano, já se começaram guerras com resultados brutais por muito menos. Nunca os extremismos estiveram tão ativos e presentes em todos os continentes…

Tudo isto faz-me recordar Nietzsche, que já evocava no distante século XIX este fenómeno na sua dimensão ética, vendo nele, uma das consequências inelutáveis do facto mais importante, segundo ele, de todo o século XIX: a morte de Deus e o caráter ilimitado do poder político que dai iria resultar. É um dos grandes temas do filósofo, que profetizou nos dois séculos que lhe precederiam, o espetáculo da destruição de toda a ética e moral até ai existente. Este filósofo morreu em 1900 e o século XX tristemente deu-lhe razão, muito para além do que poderia prever.

Mas não nos esqueçamos que ele falava de dois séculos, e não apenas de um. O segundo mal começou…

 

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Uploaded on January 27, 2015
Taken on August 12, 2013