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Afasta de mim este cálice

Cálice

 

Pai, afasta de mim este cálice

Pai, afasta de mim este cálice

De vinho tinto de sangue

 

Como beber dessa bebida amarga?

Tragar a dor engolir a labuta?

Mesma calada a boca resta o peito

Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa?

Melhor seria ser filho da outra

Outra realidade menos morta

Tanta mentira tanta força bruta

 

Pai, afasta de mim este cálice

Pai, afasta de mim este cálice

De vinho tinto de sangue

 

Como é difícil acordar calado

Se na calada da noite eu me dano

Quero lançar um grito desumano

Que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa

Atordoado eu permaneço atento

Na arquibancada pra qualquer momento

Ver emergir o monstro da lagoa

 

Pai, afasta de mim este cálice

Pai, afasta de mim este cálice

De vinho tinto de sangue

 

De muito gorda a porca já não anda

De muito usada a faca já não corta

Como é difícil, pai, abrir a porta

Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo

De que adianta ter boa vontade

Mesmo calado o peito resta a cuca

Dos bêbados do centro da cidade

 

Pai, afasta de mim este cálice

Pai, afasta de mim este cálice

De vinho tinto de sangue

 

Talvez o mundo não seja pequeno

Nem seja a vida um fato consumado

Quero inventar o meu próprio pecado

Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça

Minha cabeça perder teu juízo

Quero cheirar fumaça de óleo diesel

Me embriagar até que alguém me esqueça

 

Cantor: Milton Nascimento

Composição: Chico Buarque/Gilberto Gil

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Uploaded on November 25, 2010
Taken on November 20, 2010