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Necrológio dos Desiludidos do Amor

 

Os desiludidos do amor

estão desfechando tiros no peito.

Do meu quarto ouço a fuzilaria.

As amadas torcem-se de gozo.

Oh quanta matéria para os jornais.

 

Desiludidos mas fotografados,

escreveram cartas explicativas,

tomaram todas as providências

para o remorso das amadas.

 

Pum pum pum adeus, enjoada.

Eu vou, tu ficas, mas nos veremos

seja no claro céu ou turvo inferno.

 

Os médicos estão fazendo a autópsia

dos desiludidos que se mataram.

Que grandes corações eles possuíam.

Vísceras imensas, tripas sentimentais

e um estômago cheio de poesia…

 

Agora vamos para o cemitério

levar os corpos dos desiludidos

encaixotados competentemente

(paixões de primeira e de segunda classe).

 

Os desiludidos seguem iludidos,

sem coração, sem tripas, sem amor.

Única fortuna, os seus dentes de ouro

não servirão de lastro financeiro

e cobertos de terra perderão o brilho

enquanto as amadas dançarão um samba

bravo, violento, sobre a tumba deles.

[Carlos Drummond de Andrade, in ‘Brejo das Almas’]

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Uploaded on May 24, 2015
Taken on May 24, 2015