seminariodeteoriaehistoria
Estêncil Feminista / Pichação
Sem querer entrar no que diz respeito às questões de nomenclatura e classificação do que vem a ser o grafite e/ou a pichação, escolho esta última palavra por carregar consigo um aspecto maior de marginalização social, se adequando melhor ao texto.
Estas duas pichações, um estêncil feminista e outra provavelmente uma assinatura, estavam localizadas na Avenida Visconde do Rio Branco, em frente à Concha Acústica de Niterói, com cerca de 1x0,5m e 1x1m respectivamente, e foram feitas há mais ou menos um ano. Ambas de autoria ainda desconhecidas, foram apagadas no início de maio (2014) e nos fazem refletir sobre a pichação como forma de instrumento político. Um meio pelo qual ideias, pensamentos e opiniões podem ser expressos e vistos por todos.
Enquanto a pichação da direita é uma escrita urbana, podendo ser entendida como uma demarcação, forma alternativa de explorar a cidade; a pichação da esquerda pode ser vista como porta-voz de uma luta feminista. Com o símbolo de Vênus englobando o estêncil que diz: “Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente”, a frase choca por mostrar um tipo de inversão de valores em uma sociedade machista, que trata a mulher como objeto e não como ser humano. Por esse ponto de vista, o feminismo é radical por subverter as regras.
Numa sociedade capitalista, patriarcal, com normas, leis e padrões de beleza estabelecidos, a figura do pichador, sem pretensões econômicas, que joga com os padrões estéticos e atua sempre contra um sistema, é vista com discriminação. Mas, através dessas pichações, uma minoria tenta dar voz aos seus discursos e se fazer ver e ouvir por um sistema social que se faz de cego e surdo. Não importa se esse discurso é direto e objetivo, como o estêncil feminista, ou apenas uma palavra, assinatura codificada, feita como forma de se fazer lembrado, reconhecido. Todos esses discursos vistos como marginais incomodam a sociedade principalmente por sujar e degradar o patrimônio público e privado, manchando o visual das cidades já poluídas por tantas publicidades e pelo crescimento desordenado de suas estruturas físicas por falta de planejamento urbano e paisagístico.
Atualmente, essas duas pichações não existem mais. Uma semana depois de tirada a foto, o muro já se encontrava novamente branco. O desconforto gerado por conta da propriedade marcada pela pichação não pode ser comparado ao incômodo de uma parcela da sociedade que tem seus direitos violados, sua integridade física e moral violentadas, seja por questões sociais, étnicas, sexuais ou em razão de alguma deficiência. Tire da humanidade a capacidade de falar e ela encontrará outros meios de se expressar e de ser ouvida. E por ser uma questão social, é fato que os problemas de uma minoria reprimida sejam refletidos na própria sociedade. Mas que seja este um impulso que a mova, sem permitir que o discurso seja abafado, uma voz seja calada, ou um piche anulado por uma demão de tinta.
Estêncil Feminista / Pichação
Sem querer entrar no que diz respeito às questões de nomenclatura e classificação do que vem a ser o grafite e/ou a pichação, escolho esta última palavra por carregar consigo um aspecto maior de marginalização social, se adequando melhor ao texto.
Estas duas pichações, um estêncil feminista e outra provavelmente uma assinatura, estavam localizadas na Avenida Visconde do Rio Branco, em frente à Concha Acústica de Niterói, com cerca de 1x0,5m e 1x1m respectivamente, e foram feitas há mais ou menos um ano. Ambas de autoria ainda desconhecidas, foram apagadas no início de maio (2014) e nos fazem refletir sobre a pichação como forma de instrumento político. Um meio pelo qual ideias, pensamentos e opiniões podem ser expressos e vistos por todos.
Enquanto a pichação da direita é uma escrita urbana, podendo ser entendida como uma demarcação, forma alternativa de explorar a cidade; a pichação da esquerda pode ser vista como porta-voz de uma luta feminista. Com o símbolo de Vênus englobando o estêncil que diz: “Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente”, a frase choca por mostrar um tipo de inversão de valores em uma sociedade machista, que trata a mulher como objeto e não como ser humano. Por esse ponto de vista, o feminismo é radical por subverter as regras.
Numa sociedade capitalista, patriarcal, com normas, leis e padrões de beleza estabelecidos, a figura do pichador, sem pretensões econômicas, que joga com os padrões estéticos e atua sempre contra um sistema, é vista com discriminação. Mas, através dessas pichações, uma minoria tenta dar voz aos seus discursos e se fazer ver e ouvir por um sistema social que se faz de cego e surdo. Não importa se esse discurso é direto e objetivo, como o estêncil feminista, ou apenas uma palavra, assinatura codificada, feita como forma de se fazer lembrado, reconhecido. Todos esses discursos vistos como marginais incomodam a sociedade principalmente por sujar e degradar o patrimônio público e privado, manchando o visual das cidades já poluídas por tantas publicidades e pelo crescimento desordenado de suas estruturas físicas por falta de planejamento urbano e paisagístico.
Atualmente, essas duas pichações não existem mais. Uma semana depois de tirada a foto, o muro já se encontrava novamente branco. O desconforto gerado por conta da propriedade marcada pela pichação não pode ser comparado ao incômodo de uma parcela da sociedade que tem seus direitos violados, sua integridade física e moral violentadas, seja por questões sociais, étnicas, sexuais ou em razão de alguma deficiência. Tire da humanidade a capacidade de falar e ela encontrará outros meios de se expressar e de ser ouvida. E por ser uma questão social, é fato que os problemas de uma minoria reprimida sejam refletidos na própria sociedade. Mas que seja este um impulso que a mova, sem permitir que o discurso seja abafado, uma voz seja calada, ou um piche anulado por uma demão de tinta.