Verso e reverso

 

Hão de me chamar de louco, mas é essa a loucura que viemos ver de perto ao descermos ao ventre. E seja qual for a pátria, feliz mesmo o soldado que nasce em berço não tão esplêndido e ainda defende uma amarga mãe nada gentil.

 

Feliz de quem tropeçou nas pedras da vida, pois chato mesmo, seria desfrutar de uma caminhada plena e segura.

 

Ainda que por conta de algumas dores musculares, dei valor às trilhas sinuosas, aos aclives desafiadores e as pedras que tive que contornar, pois foram estes que fizeram valer à pena encontrar as poucas, mas inesquecíveis cascatas.

Foi a sede que passei que me fez saborear a mais fresca água e, a fome que senti que me deu êxtase ao degustar a mais simples raiz da terra.

 

Pobre é quem teve tudo. Pois, só teve algo mesmo, quem soube à custo suado que na vida nada é ofertado. Eu não tive nada e assim tive tudo. Nada tem tanto valor quanto os sonhos e o fim deles é quando os alcançamos. Sonhei, sonhei e até hoje sonho. E assim, tive o que poucos podem ter... os sonhos que nunca vão me tirar.

 

Falando em sonho... e quem nunca teve pesadelos? Ah! Este sim é um desgraçado! Acorda todos os dias de um sono profundo, e de sono profundo, vive a vida prostrado.

 

Falido é quem nunca broxou... quem não pôde perguntar a si mesmo “o que foi que mudou?” É meu amigo... uma boa foda termina-se de pau mole. Olhe pra si e veja do que você é realmente feito. O que deveria erguer-te é a fome e o desejo, e não a rigidez de sua impotente biologia.

 

Louco, eu? Graças à Deus! Pois é a sua sanidade que deixa a vida insípida.

 

Rica é a escassez! Pois é dela que colhemos a fartura da alma... A Senhora Necessidade é quem amamenta nossos desejos.

 

Que nossa vida não se escreva em verso. Pois é a prosa que nos liberta a redigir as linhas mais livres e sinceras.

 

Que chova quase todos os dias, pois só assim posso ver o sol com devoção e, se ele não vier, qualquer dia destes, eu saberei provar do sabor das gotas da chuva.

 

E que todos morramos loucos, pois eles não têm medo do ridículo e pouco têm a pensar dos outros.

 

Anderson Scaccabarozzi

12/12/2007

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