sou carta fora do baralho: zero, vintedois, arcano dos loucos, dos sem juízo, sou dos que sabem sem saber porquê.

sou dos que divertem a corte, histrião, dos que subvertem a corte e são amigos do rei, sou macaco, dos que fazem a corte e não têm vistas com a rainha.

sou raso, largo, nunca vou ao fundo; conheço milhões de mares, de todos a superfície, mas subverto a mim mesmo e mergulho e bato a cabeça, e volto; sou raso, largo, nunca vou ao fundo.

também não fico na areia: sou dos que andam, nem se sentam nem correm, construo castelos de vento e espero as ondas da verdade.

sou dos que voam, dos que inventam, sou dos dumont, dos da vinci, dos que mostram a língua e guardam a mão entre botões da farda.

sou água, sou peixe, vintedois, de sinapses rápidas como intuição, de brânquias que absorvem a razão.

sou lerdo, contemplativo, espacial, sou antigravitacional, sou fora da órbita, sou fora do centro, sou centro, sou fora de ordem, sou carta fora do baralho.

quando digo 'é isso', é porque é isso, sem nada, sem por quê; discordem, busquem explicação, mexam, revirem, vejam, verão que é isso, tão simples, sem isso nem aquilo.