Arte é terreno de transformação. É um terreno porque estamos na Terra. Nesse solo o artista trabalha, em um ofício que é, antes de tudo, transformação e polimento da própria alma, mas que tem um efeito no mundo, que se espalha com a força das ideias, diferentemente dos campos da lógica.

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Eu pinto com tinta a óleo desde 1984. Quando tinha dez anos de idade, minha mãe me colocou em um ateliê de pintura. As aulas eram à noite, com adultos, não havia crianças. Anos depois, me formei em Arquitetura e Urbanismo. Mantive a pintura como um jardim quase secreto. De 2000 a 2008, utilizei tinta acrílica, período prolífico em exposições coletivas de arte. Em 2009, retornei à tinta a óleo, tentando enxergar camadas que me estavam escapando.

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Faço retratos de pessoas com as quais tenho algum tipo de relação. Não são modelos ou pessoas escolhidas em revistas. São pessoas próximas, com quem convivo no trabalho ou na vida doméstica, e que, em algum momento, vejo-as de uma outra forma. Como um click, surge uma investigação nova. Parto sempre de visões que tenho, sigo uma voz que as acompanha. Mas não tenho controle sobre elas. Então as fotografo. Posiciono a(s) pessoa(s) o mais próximo possível da visão que tive. Fotografias feitas, faço desenhos de observação e esboços das obras. Somente depois encomendo as telas com as dimensões estudadas.

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Mas os cenários capturados pelas fotografias não me bastam. Tenho que reconstruir os espaços interiores e as paisagens. Nesses momentos, é a arquiteta que emerge, porém domada pela artista. Faço colagens, sobreponho camadas. Projeto lugares improváveis e também os impossíveis.

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O que me interessa no início é a informação literal contida nas superfícies e dobras - de pele, de tecidos, cabelos, pelos, unhas, dedos, mãos, veias. Toda informação se des-dobra em outra. Faço colagens e aproximações, nada é certo. Na tessitura de uma ou de muitas narrativas é possível investigar a natureza das visões originais, simbólicas e selvagens. Tenho consciência de que não alcançarei o que vi, mas as transmutarei em algo que consigo expressar, muito aquém do que gostaria e, ainda assim, necessário para mim. Uma vez iniciado o processo, é preciso seguir em frente. Olho muito para as pinturas enquanto estou trabalhando nelas. Uma vez prontas, no entanto, perco o interesse, não me pertencem mais.

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Perscruto minha própria natureza sombria e solar, como um animal que fareja em busca de água ou comida, seguindo um instinto primitivo, vital. Tateio no escuro na maior parte do tempo, num processo rudimentar. O que desejo mesmo é ver mais de perto, por fora, por dentro.

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Uma pintura é, na pior das hipóteses, uma janela para um mundo maior e mais profundo. Por vezes, uma pintura pode se tornar um portal de acesso a muitos mundos. Neste momento trabalho em três pinturas de um ex-aluno meu, um rapaz de 23 anos – investigo o despojamento e liberdade de um corpo ao negar-se a ter um gênero ou orientação sexual definidos. Descubro o que preciso durante o processo. No meu trabalho, as essências emergem das experiências.

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  • JoinedMarch 2008
  • Occupationarquiteta e urbanista / docente UFPR
  • HometownBauru
  • Current cityCuritiba
  • CountryBrasil
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