Carla Barbieri
Drag to set position!
"Lembrem de mim como de um que ouvia a chuva.
Como quem assiste missa.
Como quem hesita, mestiça,
Entre a pressa e a preguiça.
Acordei bemol...
Tudo estava sustenido...
Sol fazia...
Só não fazia sentido..."
- Paulo Leminski -
Um dedinho de prosa
“Não, isto não é um epitáfio”
Pergunta difícil esta quem eu sou. Nós mudamos a cada instante. Aprendemos coisas novas, abandonamos velhos hábitos. Como definir algo que em um instante é e no outro não é mais? Talvez falar sobre o que eu gosto... não, também não... com tanto para conhecer deste mundo, sabores, cores, pessoas, lugares, amores, a definição do gostar fica assim... sem ponto final. Posso falar de quem eu fui – sim, esta sim é imutável – o que fizemos está feito – o presente é movimento mas o passado é página escrita e virada. Era menina-moleque. Gostava de pipa e andar de bicicleta. Sua mãe remendava suas calças rasgadas no joelho com courinho – menina, que trabalho! Cresceu. Estudou Direito. Sua cor preferida era verde, mas o azul também lhe encantava. Amava cachorro, mas aprendeu a gostar de gatos com a Tininha – gatinha vira-lata encontrada abandonada em uma caixinha de sapato. Gatinha parideira. Caçava rato como nenhuma outra. Gostava de olhar a água – rio, mar, lago, chuva. Lia continuamente – 2 ou 3 livros ao mesmo tempo (impaciente!). Amava fotografia. 90% das suas melhores memórias foram através das lentes de sua câmera e certamente perdeu muita foto boa nos 10% em que sua amiga não estava por perto – estas fotos ficaram apenas na sua lembrança. Gostava do friozinho que fazia no alvorecer mas amava as cores do pôr-do-sol. Teve poucos amigos, mas era louca por eles. Gostava de rir. Sua vida era uma trilha sonora (ouvida muitas vezes em repetição). Mulher de fases – cismava com algo e ali ficava, até enjoar... aí seguia em frente. Gostava de uma briga. Às vezes, já convencida de que estava errada, continuava teimando só para tirar seu oponente do equilíbrio (criança!). Preferia salgado a doce. Amava sua família. Daria sua vida por qualquer um deles. Gostava de crianças. Amava viver. Sempre acreditou que a vida era um presente de Deus e por isto agradecia a todos os instantes. Amava cozinhar – e comer – mas vivia de regime, affff... Seu jardim era seu mimo – sim, jardim no apartamento. E nunca se esquecia da misturinha doce para o beija-flor e os seus sócios que faziam fila no bebedor pendurado na janela de sua lavanderia – bonitinhos... Gostava de coisas antigas – casa, carro, móveis, utensílios domésticos e vitrola. Foi muitas coisas, mas somente teve um lema na sua vida – queria se arrepender das coisas feitas e não dos “e se” que cruzaram o seu caminho. Aos desavisados, isto não é um epitáfio. Um epitáfio seria curto, superficial. Aliás, missão difícil esta – o ser humano é tão complexo – como defini-lo em meia dúzia de linhas de um epitáfio? Esta história, porém, está somente começando. A cada instante a vida vira passado, e que venham muitos outros dedinhos de prosa.
Carla Barbieri
- JoinedMay 2014
- OccupationAdvogada
- HometownSanto André
- Current citySão Paulo
- CountryBrasil
- Emailcbshopgirl@yahoo.com.br
Most popular photos
Testimonials
Nothing to show.