Das imagens que faço
Bernardo Carneiro
11.13.11
Procuro captar na minha máquina imagens muito simples e representativas, vistas todos os dias ou nunca percebidas. Quero objetos, pessoas e situações que possam gritar ou falar muito baixo, o importante é dizer algo e gerar um movimento. Podem levar a um estado de paz, reflexão, alegria, revolta, tristeza ou repugnância, só não quero a indiferença. Já presenciei situações em que lamento não estar com uma máquina e outras em que não poderia realmente fotografar: um cachorro muito magro devorando um vômito na rua; um rapaz em posição fetal, com a cabeça no colo da namorada, dentro de um vagão do metrô; uma prostituta deitada de bruços, lendo um livro de física quântica, a espera de vinte reais, como se estivesse na piscina da casa de uma amiga.
A beleza macro das cidades, como aquelas registradas em cartões postais, não é para a minha lente. Levantar a cabeça com ollhos quase microscópicos é fundamental. Outro dia mostrei para uma pessoa a foto de uma ampulheta de asas, na parte superior externa da capela do Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte. Ela disse que já foi várias vezes ao Bonfim, mas nunca havia reparado na correria do tempo, nem mesmo na carinha dos anjos chorões.
O medo de se apagar da minha memória o formato e as cores dos sorrisos e olhares das pessoas que amo, também me leva a fotografar. Não quero jamais ter imagens um pouco embassadas do meu filho, com sua expressão de aventura e felicidade, ao descer uma super ladeira sentado no seu skate. Um dia, em um breve relance, o sorriso do skate virá à superfície e quero poder confirmá-lo nos meus arquivos, para dizer que aquele sorriso amadurecido é exatamente igual ao da infância.
Fotografia é uma arte criada por homens, com a ajuda de mãos divinas, que nos salva, nos eterniza, nos ajuda a mostrar o que os olhos e almas veem pelo mundo.
- JoinedSeptember 2011
- Occupationjornalista
- HometownRio de Janeiro
- Current cityBelo Horizonte
- CountryBrasil
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